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COP30 Brasil e a viagem para o inferno climático

A COP30 no Brasil será mais uma conferência global para limitar a emissão de gases com efeito de estufa. A figura mostra a evolução da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera ao longo dos anos, incluindo também os principais compromissos internacionais para combater essas emissões. A figura fala por si.

Em 2024, a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera atingiu 425 ppm, mais 52% do que o valor pré-industrial de 280 ppm. O aumento em 2024 foi de 3,73 ppm CO2, o maior do sempre! Hoje em dia já produzimos mais energia renovável, mas ainda estamos muito longe de produzir a suficiente para travar o aquecimento global.

A humanidade comporta-se como um viciado e a droga chama se combustíveis fosseis. Não conseguimos deixar de a consumir. Para viver com os efeitos - as alterações climáticas – inventámos mentiras globais e mentiras locais.

As mentiras globais são, por exemplo, os compromissos da COP21 no Acordo de Paris, em 2015: manter o aumento da temperatura global “bem abaixo” dos 2°C e com o objectivo de não ultrapassar 1,5°C acima dos níveis pré-industrial. Sim, mas esse limite já ficou para trás no espelho retrovisor – em 2024, a Terra atingiu 1,55°C acima do nível pré-industrial! O compromisso de Paris também previa manter a temperatura global abaixo dos 2°C. Esse limite será certamente ultrapassado dentro de duas décadas, já que a temperatura global tem aumentado desde 2010 a um ritmo de com 0,37°C por década.

As mentiras locais aparecem, por exemplo, no chamado “turismo sustentável” da Madeira. É evidente que nenhum turista que chega à Madeira de avião é sustentável, devido à enorme emissão de CO2 pela aviação, representando aproximadamente 2.5% das emissões mundiais. Mas os turistas que vêm em cruzeiros têm uma pegada de CO2 ainda pior: as emissões de CO2 por quilómetro e por pessoa são até dez vezes superiores às dos aviões (https://www.bigissue.com/news/environment/can-cruising-turn-sustainability-tide/).

Um estudo do Imperial College concluiu que as alterações climáticas aumentaram as temperaturas de verão em toda a Europa, provocando mais 16.500 mortes do que num verão não aquecido pelas atividades humanas. Cientistas de Universidade de Mannheim e do Banco Central Europeu (BCE) estimam que os danos causados por fenómenos climáticos extremos na União Europeia, durante o verão de 2025, custarão 43 mil milhões de euros. Até 2029, esses custos deverão aumentar para 126 mil milhões euro por ano.

A nível global, a seguradora Gallagher Re informou que as catástrofes naturais causaram perdas económicas de 359 mil milhões euro em 2024. Além disso, Günther Thallinger, membro do conselho da Allianz SE - uma das maiores seguradoras do mundo - salientar que calor e água destroem capital. Consequentemente, as seguradoras deixarão de conseguir oferecer cobertura para muitos riscos climáticos. Sem seguros, os serviços financeiros tornar-se-ão inviáveis – desde hipotecas a investimentos. (https://www.theguardian.com/environment/2025/apr/03/)

Por fim, um relatório publicado em 2025 do Instituto e Faculdade de Atuários da Universidade de Exeter, especialistas em avaliação de riscos, conclui que os riscos climáticos estão fortemente subestimados. Prevê-se que um aumento da temperatura global de 1.5o a 2°C até 2050 resultaria numa perda de mais do 10 % do PIB na economia global e na morte de mais de 800 milhões de pessoas. Um aumento no intervale dos 2o-3oC, o rumo em que nós agora encontramos, resultaria numa perda de 25% do PIB e 2 mil milhões de pessoas morte!

As palavras de António Guterres em 2022 continuam atuais:

“O mundo está numa auto-estrada para o inferno climático, com o pé no acelerador.” 

A viagem continua. Ainda vivemos bem, a crédito da natureza. Mas a próxima geração vai pagar a conta. Talvez, dentro de 25 anos, os seus filhos perguntarão, por que os políticos não foram resolvidos este problema quando ainda era possível? Os políticos são aqueles que nós próprios escolhemos!