Benefícios e sacrifícios
Mesmo que a estrada ocupe uma parte do terreno, o restante terreno passará a ter muito mais valor
Todos pedem a estrada, mas cada um quer que passe ao lado do seu terreno
Esta história é baseada num caso verdadeiro, aconteceu numa freguesia na segunda metade do séc. XX, mas casos semelhantes repetiram-se noutras localidades. Em determinado sítio afastado os residentes reclamavam a abertura de uma estrada. A Câmara informou que não tinha verba para expropriações, muito menos a Junta de freguesia. A estrada podia ser aberta se cada proprietário cedesse uma parte do seu terreno. Todos concordaram, não foi conhecida qualquer voz contrária.
Impasse
A certa altura, os técnicos municipais compareceram no sítio para colocar os pontos, assinalando por onde deveria passar a estrada. Nesse momento surgiram os problemas, todos queriam a estrada, mas cada um queria que a estrada passasse ao lado do seu terreno. Após alguma discussão, os técnicos explicaram e convenceram as pessoas para o traçado mais adequado. Mesmo que a estrada ocupe uma parte do terreno, o restante terreno passará a ter muito mais valor.
Protesto caricato
Inesperadamente, um dos maiores proprietários teimava que no seu terreno ninguém tocava. Todos os residentes pressionaram este vizinho, pois ele seria um dos maiores beneficiados. Ao confrontar-se com a abertura da estrada, que finalmente foi aberta, o contestatário, no final do dia, muniu-se de uma enxada e plantou hortaliças no meio da estrada, ainda em terra, na parte que atravessa o seu terreno. Os restantes vizinhos, no outro dia, chamaram o técnico com a máquina retroescavadora e lá desfizeram a horta, repuseram a estrada. Curiosamente, dizem que este vizinho contestatário foi dos primeiros a utilizar a nova estrada para transportar produtos agrícolas para vender.
A justiça da Câmara
Num outro caso semelhante, um proprietário compareceu na Câmara Municipal e reclamou porque não tinha dado autorização para abertura da estrada nos seus terrenos, por isso, tem direito que lhe paguem o terreno ocupado. O presidente da Câmara respondeu-lhe: Muito bem! A Câmara avaliará os metros ocupados pela estrada e ser-lhe-á pago. A Câmara irá, também, calcular o valor a mais que os seus terrenos passaram a ter com a estrada, valorização esta que o senhor terá que pagar à Câmara. O reclamante não esperava esta resposta, como tinha vários terrenos beneficiados com a estrada, não voltou a reclamar.