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Da festa à biblioteca: o verdadeiro desafio de pertencer

Quando há um verdadeiro investimento em acolher e apoiar, os resultados aparecem: menos desistências, melhores notas

Entrar na universidade é um momento que mistura entusiasmo, curiosidade e um certo medo do desconhecido. Para muitos, é a primeira vez longe de casa, a lidar com responsabilidades novas e com um ambiente completamente diferente. É um grande salto cujo impacto, como em qualquer impulso, depende de como se aterra. A integração, mais do que um detalhe, é um fator decisivo para o sucesso. Quando um estudante se sente acolhido, acompanhado e incluído, a adaptação é mais suave e o desempenho académico tende a ser melhor.

Existem várias formas de integração, algumas mais visíveis do que outras. As semanas de acolhimento, os arraiais e a praxe são, sem dúvida, momentos que ajudam a quebrar o gelo e a criar laços. São experiências que ficam na memória e que, quando bem vividas, criam um verdadeiro espírito de comunidade. Mas, ao mesmo tempo, há uma certa limitação nestas iniciativas. Normalmente concentram-se nas primeiras semanas e depois desaparecem, deixando muitos alunos sem acompanhamento numa fase em que as dificuldades começam realmente a pesar.

A praxe, em particular, é um exemplo curioso. É talvez a forma mais eficaz de integração inicial: aproxima estudantes, cria redes de amizade e dá uma sensação de pertença. No entanto, a união e o espírito de entreajuda que se vivem nesses momentos nem sempre se refletem no resto da vida académica. Há uma energia coletiva que, se fosse canalizada também para o acolhimento ao longo do ano ou para a defesa dos direitos estudantis, poderia transformar o ambiente universitário. A união que se vê na praxe devia continuar nas salas de aula, nas associações, nas decisões que moldam o dia a dia académico.

Seria importante que a integração não fosse vista apenas como um evento, mas como um processo contínuo. Um acompanhamento mais consistente, seja através de programas de tutoria bem estruturados, ou pela criação de espaços de partilha e apoio, pode fazer a diferença entre desistir e persistir. O que um estudante precisa não é de grandes discursos, mas de alguém que o ajude a perceber como estudar, como organizar o seu tempo ou simplesmente como lidar com a mudança.

O papel das associações académicas tem sido essencial nesse sentido. São elas que, muitas vezes, corrigem falhas que deviam ser supridas pelas próprias instituições. Estas, porém, não podem ficar totalmente de fora. Um esforço conjunto entre universidades e associações garantiria uma integração mais sólida, humana e prolongada.

Também é impossível falar de integração sem falar de bem-estar. O apoio psicológico, o alojamento e as condições de estudo influenciam diretamente a forma como cada estudante vive o percurso académico. Ter onde dormir em segurança, poder estudar em espaços acessíveis ou encontrar alguém que oriente em momentos de maior pressão são aspetos básicos, mas fundamentais. A universidade não deve ser apenas um espaço de ensino, mas também de suporte.

No fundo, integrar-se é mais do que participar em eventos ou vestir uma camisola. É sentir que se pertence a um sítio onde se é ouvido, onde as dificuldades são levadas a sério e onde há espaço para crescer, não só academicamente, mas também como pessoa. E isso só acontece quando há continuidade, acompanhamento e empatia.

A integração não é um luxo, é uma condição para o sucesso. Quando há um verdadeiro investimento em acolher e apoiar, os resultados aparecem: menos desistências, melhores notas, maior motivação e um ambiente académico mais saudável. A universidade é, afinal, um reflexo da forma como se recebe quem chega. Se queremos que os estudantes se mantenham e prosperem, o primeiro passo é simples: fazer com que se sintam em casa.