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Impressões outonais

As eleições autárquicas aproximam-se e a paródia (aparentemente gratuita) dos passeios, visitas e refeições tende a preencher a memória de curto prazo, até à urna do voto, à medida que as máquinas de propaganda incrementam a sedução dos potenciais eleitores, sob a batuta da cansada fanfarra. O entusiasmo, ainda que amarelado, contrasta com aquela angústia inicial de tantos candidatos que sucumbiram no apeadeiro eleitoral entre trocas e baldrocas.

A agregar a toda esta alienação coletiva, tenho cada vez mais a impressão, de que a governação madeirense não só vive, como promove uma realidade paralela, pois, vejamos:

Na XVII Conferência Anual do Turismo recentemente ocorrida, o esfíngico e educadíssimo secretário regional da tutela afirmou, alicerçado nos dados disponíveis, que a Madeira ainda não atingiu o seu limite turístico (o elástico ainda está frouxo), pois a procura mantém-se alta, a par do incremento do preço médio de quarto, suportado, afirmou, pela reputação consolidada do destino.

Creio que essa reputação consolidada vai durar até estar tudo despedaçado, com os elásticos rebentados e com os indigentes forasteiros acampados na Quinta Vigia.

Mas há mais. Há poucas semanas, uma delegação madeirense constituída pelo Presidente do Governo Regional e pelo ex-Secretário Regional da Saúde, agora com outro “título nobiliárquico” deslocou-se à Expo Osaka, na terra do sol nascente a convite da Comissão Europeia, para apresentar um projeto de vanguarda relativa à vigilância epidemiológica das águas residuais, com impactos no ambiente, na saúde pública e com integração de tecnologias avançadas.

Se pensarmos nas recorrentes descargas de águas residuais na praia do Gorgulho desde há mais de 20 anos, assim como na praia dos Reis Magos a exalar podridão, penso que seria de todo oportuno complementar a dita apresentação com as imagens que ao longo dos anos vêm enchendo a rubrica dos casos do dia e flagrantes, apenas na imprensa.

Por último, gostava de refletir convosco, o autêntico estado de “guerra civil” que se vive no palco das nossas estradas, com comportamentos irresponsáveis que qualquer observador minimamente atento nota no dia a dia. A voragem dos acidentes aliada ao excesso de velocidade, e a falta de patrulhamento visível e dissuasor, são apenas aspetos que criam o ecossistema perfeito, onde muitos condutores e motociclistas descarregam as suas frustrações e fazem do seu veículo, a sua arma, com o personagem ou fantasia em pleno desrespeito com a sua vida, e a dos demais utilizadores. Depois da tragédia consumada, não basta dar o exemplo da superação e resiliência ao colo do vedetismo. É imperioso que se faça “mea culpa” e que se mostre também, por via pedagógica e motivacional, que o infortúnio que pode bater à porta de qualquer um tem a irresponsabilidade como causa.

Um contentor tombou na ER101 e só por milagre não se transformou em tragédia, pelo que a pergunta se impõe: o que falhou, e até quando podemos “abusar” da sorte?