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A NATO sem os EUA: viabilidade ou utopia?

O segundo mandato de Donald Trump marcou um reposicionamento das prioridades de Política Exterior dos EUA, com menor atenção aos assuntos europeus e crescente desinteresse pela manutenção da ordem internacional. Ao concentrar-se na rivalidade com a China e na segurança do Indo-Pacífico, Washington deixa a Europa mais exposta, questionando a eficácia da defesa coletiva e a própria credibilidade da NATO.

A posição reiterada de Trump ao questionar o artigo 5.º (princípio da defesa coletiva) do Tratado do Atlântico Norte fragiliza a credibilidade da Aliança, comprometendo a sua capacidade de dissuasão face a potenciais adversários. Esta postura crítica relativamente à parceria transatlântica não só abala a confiança entre os aliados, como expõe a vulnerabilidade da Europa no domínio da segurança e defesa, podendo representar um ponto de inflexão, ao incentivar os europeus a acelerar o aprofundamento da integração em matéria de defesa.

Neste contexto, a Europa não pode continuar a depender exclusivamente dos EUA para a sua segurança, sendo esta urgência determinada por 3 fatores principais: 1) o progressivo afastamento norte-americano do compromisso com a defesa europeia; 2) a relação tensa e conflituosa com a Rússia, que continua a representar uma ameaça direta à estabilidade do continente; 3) a necessidade dos europeus fazerem corresponder o seu poderio económico à sua capacidade militar, assumindo plenamente a defesa do seu espaço geopolítico, em vez de confiar num aliado cada vez mais imprevisível.

Perante este cenário, o Livro Branco sobre Defesa Europeia reconhece a necessidade de reforçar os esforços de defesa, sublinhando que a autonomia estratégica é essencial para garantir a segurança e a estabilidade do continente. A Europa deve definir de forma clara a arquitetura de segurança que pretende para o espaço pan-europeu, reforçando as suas capacidades industriais de defesa. Só assim poderá garantir maior autonomia estratégica e responder de forma eficaz aos desafios atuais.

Em suma, os europeus enfrentam uma decisão crucial entre manter a dependência de um aliado instável ou investir em sua própria defesa, o que influenciará o futuro da NATO e o papel europeu na ordem global do século XXI. À luz destes desafios, Paul Kennedy, na sua obra Ascensão e Queda das Grandes Potências, mostrou que um poder militar excessivo pode, paradoxalmente, enfraquecer um Estado. Mas o oposto também é verdadeiro: a ausência de capacidade militar constitui igualmente um fator de fragilização, sublinhando a necessidade de equilíbrio entre recursos económicos, políticos e militares para assegurar a sustentabilidade estratégica de uma potência.