Bullying
Tantas vezes ouvimos falar de bullying no contexto escolar com orientação da culpa para os contextos familiares, deixando para os pais ou educadores de casa o sentimento de “culpa única”.
No contexto social, em várias vertentes, o insulto fácil e a explosão de raivas pessoais dirigidas a outros são uma constante. No transito, nos eventos desportivos e nas redes sociais é frequente ver, ouvir e ler, insultos gratuitos e ofensivos, claramente descontextualizados, cujo objetivo é apenas o de atirar para alguém a raiva, zanga e desagrados pessoais.
As crianças e os jovens estão presentes nos contextos referidos e também elas veem, ouvem e leem esta prática ofensiva, acabando por a assumir como algo natural.
Não me parece que os adultos habituados a este funcionamento, e são muitos, tenham de facto consciência do que fazem e da responsabilidade que têm na educação dos mais jovens assim como na educação comunitária. É possível ter opiniões divergente, observar erros no transito, envolver-se nos eventos desportivos, exprimindo emoções, sem que tenham de se manifestar através de insultos e atitudes gravosas de ofensa e desqualificação de outros.
Nos diferentes contextos, o uso de expressões grosseiras dirigidas aos homens, mulheres, idosos e jovens, não são apenas sentimentos do momento, significam um olhar de desrespeito pelo outro tentando diminuir e estigmatizar a diferença, tudo isto colado a um sentimento de falsa superioridade que traduz o real sentimento de inferioridade. Este movimento de provocar dor no outro para fugir à sua própria dor é o que traduz o bullying.
Nas redes sociais a frequência de insultos e uso de linguagem que incita ao ódio e à discriminação é constante a atravessa idades, sexo e ideologia, tudo serve para ofender quem pensa diferente.
Está tudo extremado sem espaço para a liberdade de pensamento e expressão. Os “esquerdalhas” e os “cheganos” são exemplo da linguagem usada para tentar ofender quem muitas vezes, simplesmente partilha a sua opinião. Como referi no meu último artigo de opinião, o mundo a preto e branco tem vido a reforçar a vulgaridade da ofensa.
A propósito de tudo a violência gratuita está a crescer e os mais jovens são naturalmente as principais vítimas deste movimento.
Para além do trabalho que tem vindo a acontecer nas escolas, com os jovens e com as famílias, é fundamental repensar estratégias de intervenção comunitária para adultos. Ser educado deveria ser naturalmente uma prioridade de todos para todos. A educação começa aqui nos pequenos grandes exemplos da comunidade onde estamos inseridos.
Num tempo de renovação autárquica há que repensar estratégias para tornar a comunidade mais consciente, mais responsável e mais educada.