A verdade (des)confortável
Estávamos em 2013. Faz agora doze anos. Vivíamos anos complicados. A dívida “escondida” e “excessiva” trouxe-nos uma Troika mais austera na Madeira. É um ano que não esquecerei pois foi a primeira vez, como deputado, que me empenhei profundamente numa campanha eleitoral, no caso, as autárquicas. A equipa estava motivada e o entusiasmo era evidente em muitos concelhos.
Recordo-me com especial de Santana, Concelho pelo qual tenho especial afeto e cujas serras percorro com frequência. Teófilo Cunha era o nosso candidato, secundado pelo Márcio Dinarte.
Foi uma campanha com muito contacto com a população. As pessoas repetiam que estavam fartas dos governantes da altura, ao mesmo tempo que manifestavam receio com as alternativas apresentadas pela oposição. Perguntavam: “Terão capacidade de gerir?”, “Terão experiência necessária?”, “Serão muito radicais?”, “Serão capazes de negociar com o governo?”. Reconheço que eram perguntas inteligentes.
Nas ruas dizíamos que os nossos candidatos eram pessoas honestas, eram “filhos da Terra”, e humildes, e que farão certamente um bom trabalho.
O dia das eleições acabou por ser generoso, com a nova equipa do CDS a obter a maioria dos votos. Tomou posse, governou bem e a confiança foi renovada durante estes doze anos.
O mesmo aconteceu em Machico e Santa Cruz com outras equipas da oposição. Na Ribeira Brava e São Vicente a mudança fez-se, mas com uma equipa social democrata opositora. A população não se arrependeu destas mudança.
Em democracia, a mudança boa permanece, o poder serve o povo e este escolhe quem governa.
A grande lição que se tirou foi que existem muitas pessoas competentes na oposição, nas instituições da sociedade civil, nas empresas, no ensino, bem como na oposição interna do PSD. O Teófilo e o Dinarte, entre muitos outros, são a prova cabal disso.
Mais, vejam nos últimos tempos, que deputados tentaram chegar a entendimentos úteis para os madeirenses, sem birras, de que é exemplo o especial aumento do salário mínimo regional.
Assim, aqui morre o mito de que só pode governar a Madeira quem já está atualmente no governo. Outros poderão ser ainda mais capazes. E morre o mito que a estabilidade não tem preço. A estabilidade é útil quando está sintonizada com a vontade do povo e as normas do Estado de direito.
Alberto João Jardim é a prova suprema de que não há que ter medo da mudança para uma outra geração. Aos 33 anos assumiu o governo da Madeira e escolheu Rui Fontes com 27 anos para arrumar as finanças regionais. A história provou que estavam preparados para o desafio. E passados muito anos, já não.
Como diria Camões, “todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.” Estamos a 54 dias das eleições, temos tempo para refletir e ter a coragem de ultrapassar os nossos medos. De analisar em quem se pode confiar pois cumpre o que promete e, então sim, ter esperança num futuro mais humano, sustentável e justo para a Madeira.
E mais não preciso dizer.