Escolher as pessoas certas
No decurso da nossa vida há muitas pessoas que passam por nós. Nas mais variadas situações. Seja na escola, no trabalho, no café ou no desporto vamos convivendo com gente muito diferenciada que se atravessa no nosso caminho. Uns dizem-nos pouco, outros dizem-nos muito, os que ficam e os que vão como um sopro, aqueles com quem nos identificamos e os que não nos dizem absolutamente nada. E nós lá vamos selecionando, agregando ou dispensando conforme o nosso momento, o estado de espírito ou as sensações que nos transmitem as interações espontâneas. Regra geral não somos nós que escolhemos os nossos amigos, são as circunstancias da vida que tratam do assunto. Vamo-nos aproximando dos que nos dizem mais, dos que têm mais a ver connosco, em função dos gostos, das atitudes e até dos estratos sociais, da família deste ou daquele que é amigo dos nossos pais. Ninguém diz que tem que sair de um grupo para se inserir num outro só porque sim. Nem o processo de aceitação ou rejeição é assim tão simples. Às vezes gostávamos de nos aproximar de certas pessoas mas elas não nos ligam nenhuma, da mesma forma que há quem se tente aproximar de nós e seja sucessivamente desvalorizado.
Não é propriamente uma escolha nossa o grupo onde somos inseridos. Somos escolhidos pelas condicionantes e pelos valores. Pelo apelido, a cor dos cadernos ou a patifaria que fizemos de forma inocente. Depois, com o desenrolar da nossa existência, vamos moldando o nosso caminho e a nossa forma de estar. Isso faz com que alguns já não façam sentido e outros passem a fazer. Uns desiludem-nos e outros surpreendem-nos. Regra geral aprendemos a perceber quem faz parte de nós nos momentos mais difíceis, naqueles onde ninguém quer estar ou não dá para tirar proveito. É normalmente aí que percebemos quem está só porque sim ou quem se interessa verdadeiramente pelos nosso problemas, quem se aproxima só para tirar proveito ou quem não nos abandona mesmo nas situações mais difíceis. Se é fácil estar ali e apoiar quando alguém erra? Não. Mas isso é amor, isso é cumplicidade. A capacidade de mesmo nos erros não deixarmos cair alguém.
Esse processo de transformação faz parte do que é o nosso crescimento pessoal e da nossa construção. Nós próprios vamos passando por diversas fases e nelas vamos acrescentando o que nos é mais próximo. Cometemos erros, seguimos em frente mas também vamos percebendo o que nos é mais útil, mais próximo e faz de nós mais inteiros. Os que nos valorizam e nos moldam, os que se afastam e nos mostram que o caminho é outro, diferente. Escolher as pessoas certas é um trabalho que inconscientemente nos obriga a crescer e que vive em paralelo com todas as nossas dúvidas existenciais. Por vezes acreditamos que é por ali, outras achamos que nada faz sentido. Nem sempre os que ficam são os primeiros, os mais evidentes ou mais antigos. Nunca é tarde para encontramos quem nos preenche, quem faz de nós melhores, mais seguros, convictos e consistentes. Um amigo, uma pessoa que nos quer bem ou nos acrescenta não tem que ser para sempre, não tem que estar ali a vida toda, não tem que nos acompanhar desde a infância. Tem que ser presente num determinado momento importante, tem que se mostrar em toda a nossa existência e tem que nos fazer sentir seguros do que temos pela frente. São os que nos acompanham que fazem o nosso caminho e que nos guiam entre toda a nossa complexidade. Nunca será perfeito, nunca será sempre certo mas é seguramente nos que fazem a diferença e nos suportam que encontramos a solução para os dias mais difíceis, aqueles onde nada parece fazer sentido.