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Cada povo tem o governo que merece

Qual a coerência de semelhante acordo? O PAN passou a ser de centro-direita? Já mudou de posicionamento político ideológico? Nem os animais que diz defender, nem as árvores que diz plantar, nem as restantes reivindicações...

Sei que o título que escolhi para o meu artigo é polémico e muita gente não concordará com o mesmo.

Foi o título escolhido porque as análises que têm sido feita aos resultados do ato eleitoral do passado domingo, 24 de setembro, falam de tudo menos na decisão tomada democraticamente por quem votou e por quem não votou.

Os que não votaram – que, na minha opinião, não têm o direito de criticar e de reivindicar –, deram o seu voto de silêncio aos que ganharam para governar. Dos que votaram, a maioria escolheu partidos de centro e de direita, dizendo que os preferem para governar aos partidos devidamente identificados com a esquerda ou centro-esquerda.

Esta é uma realidade que eu preferia que não existisse, mas existe, e passados quase 50 anos de democracia, já é tempo de começarmos a falar claro, e não andarmos a nos iludir. A maioria do povo da Madeira prefere a direita à esquerda. É verdade que já não consideram que os comunistas comem criancinhas ao pequeno almoço, mas ainda acreditam que a esquerda lhes quer tirar a herança e outras coisas que lhes são ditas, pela socapa, nos porta-a-porta das campanhas eleitorais, e por outros meios de controlo de mentalidades, que predominam em toda a Região.

A sociedade madeirense continua maioritariamente controlada, de uma forma ou de outra, pelo partido que está no poder há mais tempo do que Salazar. Através das casas do povo, clubes desportivos, centros e ginásios para seniores, associações de vária índole, sendo algumas criadas uma espécie de braço armado do poder, etc…

Esta máquina continua em renovação e não para de crescer aos olhos de toda a gente, sendo semelhante a um regime de partido único. Quem está fora dela, sofre por ser livre, por não querer se submeter e muita gente, sobretudo os mais novos, fogem para outras paragens porque já sabem que os tachos já estão ocupados para os apadrinhados pelo poder da grande máquina.

Sabemos que o PSD já tem vindo a perder votos, ao longo dos últimos 8 anos, para outros partidos da mesma área ideológica, por isso teve que fazer uma coligação com o CDS/PP nestas eleições. Foi a primeira vez que isso aconteceu.

Mesmo assim, perdeu a maioria absoluta, ficando a faltar a eleição de um deputado/a para a mesma. E agora, para surpresa de todos nós, vai fazer um acordo com um partido de centro-esquerda.

Qual a coerência de semelhante acordo? O PAN passou a ser de centro-direita? Já mudou de posicionamento político ideológico? Nem os animais que diz defender, nem as árvores que diz plantar, nem as restantes reivindicações – sendo que algumas já foram levadas ao parlamento, ao Governo e a alguns municípios, por outros partidos e associações –, conseguem explicar semelhante aliança, a não ser que agora o PAN esteja de acordo com os Vistos Gold, com a lavagem de dinheiro no off shore, com o dinheiro para apoiar o desporto profissional, com o apoio aos grandes empresários, com a manutenção dos impostos, etc., etc…

É por estas atitudes que a política e os políticos são mal vistos pelo povo. Até porque muitos votam em novas soluções pura e simplesmente sem saber o que as pessoas que elegem vão fazer. Votam, protestando e apoiando quem fala mais alto e que, mesmo dizendo muitas mentiras, pelo meio lhes parecem heróis.

Desejo muita sorte e muita firmeza a todos os partidos que não estão neste caudal da direita porque, pelo menos, vamos ter mais vozes a defender as suas ideias e ideais. Precisamos que apresentem propostas claras e concretas que possam ajudar quem neles confiou o seu voto. Ao Deputado do BLOCO, que ajudei a eleger, desejo muita garra e muita coragem, também ideológica, porque as ideologias não morreram.