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Sobre a ausência de regras

O estacionamento no Arieiro, bem como noutros locais emblemáticos da ilha, continua caótico. Mais controlado, mas mesmo assim, todos os dias são publicadas fotos de situações perfeitamente escandalosas. Como desrespeito sistemático não só da sinalização vertical existente, como mesmo das mais elementares regras de bom senso.

A informação que corre, não sei se fundamentada ou não, é que a PSP tem instruções para não autuar… que pode exercer a sua acção “pedagógica”, mas que não pode autuar.

E até acredito que nalgumas situações esta postura funcione. E funciona, quando o agente está na realidade lá. Mas a verdade é que a presença não pode ser constante. E não podendo ser uma presença constante em todos os lugares onde alguém pode ter o devaneio de parar como lhe apetece (muito frequente – basta dar uma volta pela ilha…), é preciso que a PSP tenha os meios necessários para agir, onde e quando necessário, de forma a recivilizar a ilha.

É verdade que há demasiados carros de aluguer. E demasiados turistas. É uma das consequências impensadas do “crescimento a qualquer custo” implementado por este governo regional e pela sua disciplinada, mas não disciplinante, autoridade regional de turismo. Mas é verdade também que isto não dá direitos acrescidos aos utilizadores… não há estacionamento, pára mais longe, ou não pára. Nada nem ninguém lhes dá o direito de violar o direito à livre circulação de todos os outros…

Mas esta perspectiva “pedagógica” e não actuante (ou “autuante”, se quiserem), tem consequências. Nomeadamente em termos do respeito dos residentes pelas suas instituições, que consideram ter neste momento dois pesos e duas medidas… uma, severa, para “os daqui”, e outra demasiado tolerante e “deixa andar”, para “os de lá”. E isto gera revolta na cabeça das pessoas, que acabam por perder o respeito que têm pelas instituições, por um lado, mas também gera revolta contra os turistas (e aqui a coisa acaba por se generalizar, não se distinguindo entre cumpridores e bandalhos).

Porque a ausência de regras tem consequências. E uma delas é a perda do controlo, nomeadamente pela perda de respeito nos instrumentos de controlo social.