O preço da banana

Começo esta carta de leitor informando que pedi ao meu filho que me ajudasse a escrever o que penso, porque não tive a chance de estudar como gostaria.

Muito novo, com os meus 13 anos, comecei a trabalhar na agricultura, sobretudo no cultivo da banana, com o qual fui garantindo um sustento que me permitiu criar dois filhos e dar-lhes a oportunidade de estudarem.

Tenho orgulho no meu passado, mas nunca esquecerei os momentos difíceis que vivi, as noites que não dormi, por causa dos senhores que destruíram o sector da banana e levaram à falência tantas cooperativas.

Na passada semana fui convidado para estar presente numa manifestação de produtores contra a Gesba, que se realizou na Madalena do Mar e que foi promovida por alguns dos senhores que contribuíram para a falência das cooperativas e que deixaram centenas de agricultores, como eu, sem chão, temendo o futuro.

Como é lógico, recusei-me a estar presente nesse encontro, porque o mesmo foi proposto por pessoas que ajudaram a afundar o barco e hoje tentam aproveitar-se do que foi conquistado, depois de anos sem nada terem feito para proteger quem ficou de repente quase sem nada, apenas com banana a apodrecer.

É verdade que se pagava bem para a altura, mas também é verdade que foram as loucuras que levaram à falência de todas as cooperativas e que resultaram em milhões de dívidas que foram assumidas pelo Governo.

É lamentável e desonesto ouvir e ler barbaridades, sobretudo vindo de pessoas que não foram dignas no passado e que hoje apenas exigem mais e melhores pagamentos pelo preço da banana e afirmam que no passado recebia-se muito mais. Isso é mentira, pois nunca um produtor de banana recebeu tanto como acontece agora. Podia ser mais, como todos gostaríamos, mas não seria correto dizer que é menos do que no passado. Mais ingrato seria esquecer o apoio que recebemos, por exemplo dos técnicos que me ajudaram a aumentar a rentabilidade da minha exploração, ou ainda as ajudas que recebemos, como os sacos e o raticida.

Feitas as contas, com a maior das sinceridades, hoje limito-me a produzir banana e a entregá-la na Gesba. O resto trata a empresa, que me paga a tempo e horas e garante-me a possibilidade de viver de forma tranquila, em paz, sempre com a garantia de escoamento. Portanto, não contem comigo para jogos sem sentido, ainda por cima levados a cabo por senhores que todos nós sabemos como adquiriam terrenos e nada fizeram para que as cooperativas fossem à falência. Nessa altura mantiveram-se calados, como ratos. Os primeiros que abandonaram o barco…

Camacho Basílio