Terá a Região aumentado a cobertura de médico de família em mais de 20% entre 2019 e o actual momento?
O secretário regional da Saúde afirmou, ontem, que no actual mandado de Governo, a taxa de cobertura de utentes com médico de família aumentou, na Madeira, em mais de 20%. Mas será que essa afirmação de Pedro Ramos corresponde à verdade?
Na quinta-feira (ontem), a propósito da entrada de sete médicos de Medicina Geral e Familiar para os centros de saúde do SESARAM, Pedro Ramos afirmou: “Desde 2019, o SESARAM foi reforçado com a entrada de 28 novos médicos de família, o que permitiu aumentar a taxa de cobertura em mais de 20%.”
Na mesma ocasião, o secretário regional da Saúde disse que o crescimento desde 2015 foi de 31%, passando de 59% para 90%.
Vejamos então os factos conhecidos.
Desde logo, Pedro Ramos confunde percentagem com pontos percentuais. Mas, nesta análise não vamos valorizar esse facto. Aliás, se o secretário regional da Saúde falasse na verdadeira percentagem, os números seriam mais favoráveis ao Governo Regional.
Surge, depois, uma dificuldade em avaliar a afirmação do governante, que se relaciona com a falta de indicadores actualizados. Os últimos de qualidade são os constantes no Relatório de Gestão do SESARAM de 2021, publicado em 2022. Por isso, socorremo-nos desse documento e dos relativos aos anos anteriores, assim como de declarações públicas do coordenador do agrupamento dos centros de saúde da Região.
Assim, constata-se que entre 2019 e 2021 houve um crescimento de 4,7 pontos percentuais na taxa de cobertura de utentes com médico de família (de 69,7% para 74,4%).
Em Julho de 2022, Fábio Camacho, coordenador geral do Agrupamento dos Centros de Saúde da Região, em declarações ao DIÁRIO, dizia que a taxa de cobertura era de 80%. Isso significa um crescimento de 5,6 pontos percentuais, relativamente a 2021.
Agora, um ano depois, Pedro Ramos disse que a taxa é de 90%, o que presentam um crescimento de 10 pontos percentuais, face a Julho do ano passado.
Assim, a julgar pelos dados oficiais e pelas declarações referidas, de 2019 a Julho de 2022, o crescimento da taxa de cobertura de utentes com médico de família foi de 10 pontos percentuais. De Julho do ano passado a igual mês de 2023, terá também sido 10 pontos percentuais.
Uma das coisas que Pedro Ramos não referiu foi o efeito da redução do número de utentes dos centros de saúde, na taxa de cobertura. No final de 2019, estavam inscritos 290.162 utentes. Uma diferença de -15.762 uetntes. No final de 2021 eram 278.014.
Como o trabalho de limpeza tem continuado, isso significa que, hoje, devem de ser menos. Logo, mesmo que hoje a taxa de cobertura real seja de 90%, o crescimento muito dificilmente será o referido por Pedro Ramos, devido aos utentes-fantasma que havia em 2019.
Pelas razões apresentadas, consideramos a afirmação de Pedro Ramos como imprecisa.