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O mundo 1 X 2

Alexander Stubb é uma personalidade interessante. Finlandês. Professor universitário, autor de inúmeros livros e teses, colunista do Financial Times. Liberal, europeísta. Foi primeiro-ministro da Finlândia. E até é maratonista. Acima de tudo um grande comunicador!

Mas o que me chamou verdadeiramente a atenção foi a sua visão analítica do mundo em que vivemos, consubstanciada no seu novo livro “Nova Ordem num Mundo em desordem”, do qual partilhou recentemente os seus pontos principais e abriu à discussão.

Ele afirma que passámos de um poder bipolar na Guerra Fria, com os dois blocos antagónicos, para um poder Unipolar (Americano) após o colapso da URSS, e onde a globalização floresceu. Ambos os poderes geravam uma certa ordem mundial. Agora vivemos uma nova fase, Multipolar, associada a uma certa desordem mundial.

O multilateralismo teve o destino moribundo da ONU. Somos governados por aquilo que designa como o “Poder Triangular”. Ao que eu reformularia como o “Mundo 1, X e 2”. Nele, o Ocidente (EUA e EU com outros aliados) defendem o primado da democracia, os direitos humanos e a economia de mercado. A China e a Rússia e mais outros, o primado autocrático das suas sociedades e o controlo férreo da comunicação social.

O restante poder, cada vez maior, que designa como “o Sul global” é a balança que equilibra e condiciona os primeiros. Como o Brasil e o México condicionam os EUA. A Turquia e Israel a Europa. As Filipinas e a Indonésia a China, entre outros exemplos. Aquilo que o jornalista Fareed Zakaria da CNN designa como “The Others”.

Passámos de uma ordem global para um misto de ordens regionais (Ex. EU) e desordem (Ucrânia/Taiwan/África).

O próprio tipo de poder mudou. Desde o colonial, poder Forte (imposição a outros) e o poder Fraco (convencimento de outros), passámos à complexidade do poder dito inteligente, que usa os dois primeiros de forma dinâmica, de que é exemplo a coligação internacional de apoio à Ucrânia.

Os sintomas dessa desordem mundial são evidentes: o 11 setembro, crise financeira 2008 e seguintes, a vitória de Trump, Jonhson e Bolsonaro, invasão da Ucrânia, a gestão da pandemia Covid-19 e das alterações climáticas, a crise migratória no sul da Europa e dos Estados Unidos bem como as demografias, exemplo antagónico da China/Índia. Adicionaria a radicalização do discurso chinês e dos conservadores americanos. Também a fragilidade russa que passou de uma “constipação” a uma “pneumonia”. E o negacionismo e os sentimentos de conspiração que reinam por vários países…

Alexander faz uma análise quase matemática das relações internacionais. Mas habitualmente gostamos de imagens simples para compreender problemas complexos.

E a questão fundamental... para onde vamos? E também... como criar uma nova ordem que termine a atual desordem? Há várias pistas, a mais forte em minha opinião, é a opção do Ocidente de uma política externa eticamente mais consentânea com os seus valores e a dimensão atual na arena mundial. Um pendor ético e uso do “Smart Power” ou, como alguns dizem, “the West must listen to the Rest”.