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SRS – Pontos fracos, Pontos fortes

Cuidar 250.000 concidadãos, não é nem nunca será uma tarefa isenta de dificuldades e imprevistos. No entanto, todos nós, sem exceção, merecemos o esforço titânico que os profissionais que trabalham no serviço regional de saúde (SRS) fazem para “levar o barco a bom porto”.

Hoje gostaria de partilhar a minha visão isenta de quem durante 36 anos integrou o SNS e, com mais de 50 anos de profissionalização, não vive alheio aos anseios e angústias dos que dependem deste serviço.

Entre altos e baixos manifesto aqui o meu mais sincero agradecimento e parabéns a todos os que trabalham neste serviço público de tão abnegada entrega. E porquê o termo “entrega”? Passo a explicar-vos o espírito com que quase todos nós abraçámos este serviço.

Muitos de nós tivemos convites e sugestões para não aderir ao SNS ou SRS. Não resisto a confessar que isso se passou comigo aos 30 anos de idade, em que fui convidado por alguns colegas para aderir ao Serviço de Saúde – diferente do SNS, que do ponto de vista económico e de carreira augurava muito facilitismo – o qual recusei. Nada me demoveu, apesar de saber que iria sujeitar-me a variadíssimos exames de competência durante a minha carreira médica nos Hospitais do SNS. Vencimentos menores, uma carreira extremamente exigente, mas prestigiante, que muito nos honrava e que quase todos faziam questão de seguir, deixando para trás os prometidos facilitismos e maiores proventos económicos. Não quero com isto desprestigiar os profissionais que fizeram opções diferentes da minha. Não, antes pelo contrário. O que prevalecia maioritariamente nessa época era este espírito, pelo que, estou certo, outros sentiram o mesmo que eu.

Confesso que hoje duvido se este paradigma se mantém, mas foi, estou convicto, uma realidade nos anos 70 a 90 do século passado. E tenho a certeza de que muitos dos que estão a ler este texto, concordarão comigo.

Chegamos, assim, aos pontos fracos, quer do SNS ou SRS. Apontando na atualidade a carreira profissional, quer de médicos ou outros, como o ponto mais fraco do sistema. Ser interno dos Hospitais era algo que alguns na sua atividade privada exibiam nas suas tabuletas indicadoras da existência de consultório médico. Hoje menorizam este estatuto, como se de crianças incapazes se se tratasse. Muitas tarefas sob supervisão de especialistas poderão ser executadas, diria antes, deveriam ser executadas por estes colegas, que, pelo facto de estarem obrigatoriamente inscritos na Ordem dos Médicos, lhes confere autonomia (discernimento!) para a sua execução. Estou certo de que nenhum colega em formação, vá executar uma tarefa que não se sinta suficientemente capacitado para a fazer. Quantas tarefas seriam melhor executadas se se tivesse esta perspetiva de aprendizagem e ensinamento (supervisão!). A menorização dos que nos rodeiam vai incapacitar a sua melhoria. Um relatório médico, por exemplo, terá de ser passado por um especialista, ou deveria antes ser relatado por um interno e revisto e promulgado por especialista? Uma receita médica, idem aspas, e por aí diante. A formação deverá ser entendida e percecionada pelas partes com responsabilidade e competência. Confesso que fico perplexo com algumas exigências e notícias que vejo publicadas. Confesso, ainda, que em relação a muitas delas aceito falta de cuidado de quem a propala ou divulga, mas, por vezes, me espanto por não haver a respetiva correção por quem a deveria fazer.

Outros pontos fracos há, com certeza, nomeadamente: as listas de espera, quer para consultas ou exames e atos médicos ou cirúrgicos, os vencimentos, os horários encurtados, quer de profissionais ou de serviços.

Passando agora para os pontos fortes, tenho a referir a recente inauguração do Serviço de Hospitalização Domiciliária, que, para mim será o ponto mais forte do SRS. Ainda, o recém-anunciado serviço de cirurgia ambulatória em vários centros de saúde. A plataforma, que permitirá saber do acesso aos cuidados prolongados, continuados ou paliativos é certamente um instrumento fundamental e inovador do modo transparente e profissional como o SRS encara as questões de Longevidade. A prestação de consultas de psicologia, nutrição, saúde oral, terapias e outras, nos centros de saúde, aproximando os serviços dos utentes.

Haverá certamente outros que não me ocorrem de momento, e que serão igualmente pontos fortes do SRS, mas os que aqui foram mencionados merecem, sem dúvida alguma, os meus parabéns a todos os profissionais que têm permitido a implementação destas melhorias na prestação dos cuidados de Saúde à população da nossa ilha, que se quer cada vez mais inclusiva e amiga de todos.