E o Marítimo desceu

Nós, madeirenses, somos de facto, especiais, únicos, diferentes.

E se dúvidas houvesse, cá temos o nosso Marítimo para confirmar.

Em todas as épocas os clubes preparam-se para determinados objetivos. Estas coisas acontecem, provavelmente, em todos os escalões, mas vamos falar na 1ª Liga, campeonato onde até há pouco tempo o Marítimo fazia parte.

Há quem prepare a equipa do seu clube para se manter no escalão onde milita, outros envidem esforços para atingirem uma competição europeia e outros – poucos e os mesmos do costume – para serem campeões.

Este é o panorama habitual que conhecemos desde que lidamos com estas coisas da bola.

O Marítimo, porém, é um clube diferente.

Há três ou quatro épocas a esta parte que se preparou para descer.

Não deve haver clube igual nos anais do futebol!

Mas assim foi, assim aconteceu.

O Estrela de Amadora foi o juiz, deu a sentença final, mas mais não fez do que cumprir o esperado, castigando o presumível mau trabalho das direções, e o desempenho desastroso de jogadores e técnicos envolvidos nesta despromoção.

Admitimos que, no meio de todos eles, houvesse quem não merecesse, mas pelo andar da carruagem nestas últimas três ou quatro confrangedoras épocas, há muitos mais responsáveis do que inocentes.

No último domingo assistimos a um jogo entre uma das melhores equipas da 2ª Liga e uma das piores do escalão principal. Ganhou a melhor da 2ª Liga, como, aliás, já era de esperar.

Foi com sorte, foi com azar, foi nos penaltis, foi como foi, mas foi através dos instrumentos legais que o futebol tem ao seu dispor.

É verdade que o Marítimo foi despromovido naquele jogo, mas a sua despromoção arrastou-se em 34 jornadas.

Um campeonato miserável, pautado por várias derrotas nos últimos instantes do jogo, por outras, em consequência de golos sofridos em meia dúzia de minutos, que passava a equipa de vencedora a vencida, alguns dos quais consentidos de uma maneira infantil que traduzia bem a categoria dos seus executantes. Para não falar das constantes expulsões, fruto da indisciplina reinante.

Aliás, quando no princípio da época foi dado a conhecer que o Marítimo ficaria com a maioria dos jogadores da época passada, aqui nas colunas deste diário, já previmos o pior, não porque tenhamos alguma faculdade de adivinhação, ou apetência de bruxo, mas que estava aos olhos de toda a gente o que iria acontecer.

Tudo na vida tem limites, incluindo a sorte. Três anos na corda-bamba, algum dia o Santo Protetor iria entrar de férias. Entrou nesta famigerada época para o Marítimo de 2022/23, perante os olhos e os rostos amargurados de uma massa associativa e adepta empolgante e verdadeiramente amante do seu clube que, certamente, não o abandonará neste momento particularmente difícil e desprestigiante que atravessa.

Dirigentes, técnicos e jogadores passam, mas o Marítimo ficará e pensamos que muito brevemente voltará aos lugares a que tem direito.

Aguardemos.

Juvenal Pereira