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Valores de Mário Soares marcaram os 50 anos de história do PS

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O secretário-geral do PS considerou hoje que os valores de Mário Soares pelo pluralismo, cosmopolitismo, luta pela liberdade e defesa da autonomia da esquerda democrática marcaram definitivamente os 50 anos de existência do seu partido.

Estas afirmações de António Costa foram proferidas numa homenagem ao fundador e primeiro líder do PS, Mário Soares, e à sua mulher Maria de Jesus Barroso, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, que contou com a presença dos principais dirigentes nacionais desta força política que hoje completa 50 anos desde a sua fundação na Alemanha.

No Cemitério dos Prazeres, perante os filhos do antigo Presidente da República e primeiro secretário-geral do PS, João e Isabel Soares, António Costa começou por salientar o "caráter plural" deste partido desde que nasceu em 19 de Abril de 1973.

"Desde a nascença, desde o primeiro momento, o PS foi um partido plural e, por isso, a votação da sua fundação, também não foi unânime", disse, tendo a ouvi-lo o antigo secretário de Estado Arons de Carvalho, que esteve presente no congresso da fundação deste partido, em Bad Munstereifel, nos arredores de Bona.

Nesse Congresso de Bad Munstereifel, perante os delegados da Ação Socialista Portuguesa que haviam chegado à Alemanha pelos mais variados trajetos, para despistar os agentes da PIDE, Mário Soares alegou ter informações credíveis sobre um crescente descontentamento nas Forças Armadas portuguesas face ao prolongamento, sem fim à vista, da guerra colonial.

As posições contrárias à transformação da ASP em Partido Socialista foram levadas até ao fim. Entre os 27 fundadores do PS, sete votaram contra a criação do partido, defendendo essa posição Gustavo Soromenho, Mário Mesquita, Nuno Godinho de Matos, Gil Martins, Joaquim Catanho de Menezes, António Arnaut e a mulher de Mário Soares, Maria Barroso.

No seu breve discurso, António Costa elogiou o papel de Maria de Jesus Barroso, que foi deputada à Assembleia Constituinte, e defendeu que os valores de Mário Soares marcaram até hoje "o ADN do PS".

O atual líder dos socialistas e primeiro-ministro desde novembro de 2015 considerou que Mário Soares "é não só o primeiro líder do PS, mas uma figura única e extraordinária da História Contemporânea de Portugal".

Referiu-se depois ao combate ao regime do Estado Novo travado por Mário Soares, à luta "nas ruas pela autónoma da esquerda democrática em Portugal após o 25 de Abril de 1974, em defesa dos valores da social-democracia e do trabalhismo".

António Costa classificou então o primeiro líder do PS como "um herdeiro da velha tradição do liberalismo português, do republicanismo e da laicidade" e também dos valores do antigo Partido Socialista fundado em 1875.

"Mário Soares, ao longo da sua vida foi um lutador contra a ditadura", salientou, antes de apontar que, por duas vezes, foi eleito Presidente da República, e por três vezes, desempenhou as funções de primeiro-ministro "sempre em circunstâncias muito difíceis da vida nacional".

"Foram os tempos da consolidação da democracia, da aprendizagem do funcionamento do novo sistema político e de gravíssimas crises económicas e financeiras, que Mário Soares enfrentou sempre com grande lucidez, grande determinação e, em alguns momentos, com enorme incompreensão", sustentou.

Neste contexto, António Costa fez uma alusão indireta ao papel de Cavaco Silva quando chegou à liderança do PSD em 1985, após lembrar que o primeiro Governo de Soares caiu na sequência do chumbo de um voto de confiança, o segundo por decisão do Presidente da República, Ramalho Eanes, dissolver o parlamento, e o terceiro, o do Bloco Central, por opção do "PPD".

"Esse terceiro Governo de Mário Soares, a poucos dias de estar assinado o tratado de adesão de Portugal à União Europeia, o partido parceiro da coligação, o PPD, resolveu retirar o apoio, provocando a queda" desse executivo", assinalou António Costa.

De acordo com o secretário-geral socialista, "Mário Soares transcendeu o PS, mas a sua personalidade marcou para sempre o ADN do partido".

"Marcou-o na enorme tolerância de respeitar o pensamento adverso, no enorme cosmopolitismo e patriotismo, porque deu tudo pela sua pátria quando era preciso defender a liberdade e a democracia", advogou.

Na homenagem a Mário Soares estiveram presentes o presidente do PS, Carlos César, o secretário-geral Adjunto, João Torres, os dirigentes José Manuel dos Santos, Fernando Medina, Duarte Cordeiro, Ana Catarina Mendes, Porfírio Silva, Eurico Brilhante Dias, o fundador José Leitão, o antigo ministro Jorge Lacão e o líder da JS, Miguel Costa Matos, entre outras figuras.