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PS: Passado, Presente, certamente Futuro

Quando, em 2019, o PS Madeira obteve o seu melhor resultado de sempre em eleições regionais, deveria ter tido a ambição de prosseguir esse caminho, trabalhando com a convicção de que seria possível vencer as eleições seguintes. Em vez disso, entrou em depressão – e entrou em depressão porque, quatro dias depois das terceiras eleições desse ano, decidiu que era preciso mudar tudo, a começar pela liderança, como se tivesse corrido tudo mal. As consequências, internas e externas, dessa e de outras decisões precipitadas, anteriores e posteriores, são as que hoje se conhecem.

Em 2023, foi a vez do PSD-Madeira entrar em depressão, depois de ser confrontado com o seu pior resultado de sempre em eleições regionais e constatar que nunca mais vai ser o que era. Hoje, a convulsão interna é indisfarçável: há o PSD A de Albuquerque, o PSD B de Calado e o PSD C de Coelho, que brigam publicamente para designar candidatos às próximas eleições.

Neste cenário, o PS teria a oportunidade de identificar e corrigir erros recentes, reconstruir-se e preparar-se tranquilamente para as próximas eleições regionais. Ao invés, soube às 19 horas de uma segunda-feira que teria de encontrar novo líder até Março e às 00 horas de terça que Paulo Cafôfo regressaria à função, que anteciparia as eleições para o início de Dezembro e o Congresso para Janeiro. A pressa na sucessão inviabilizou qualquer tentativa de discutir um rumo alternativo, publicamente encarada, desde a primeira hora, como necessária por vários militantes. Continuam enganados os que julgam que podem condicionar a liberdade de militância de quem diz o que pensa, como se o espaço público e mediático lhes tivesse vedado, reservado apenas para a narrativa oficial, como fazem internamente. Que fique claro: quem sempre lutou contra os tiques ditatoriais do PPD, nunca temerá métodos semelhantes.

Foi assim que chegámos aqui: a um PS Madeira que perdeu votos, deputados, presença, identidade e representatividade. Um PS que foi incapaz de se afirmar como alternativa e que, pela terceira vez em quatro anos, elegeu um líder unânime, com mais de um milhar de votos, com uma suposta unidade interna que os madeirenses nem sempre compreendem e alguns socialistas fingem compreender por mera conveniência.

A divisão que permanece radica num pensamento essencial: há os que acreditam que Cafôfo será, por si, auto-suficiente para mudar a Madeira; e os que continuam convencidos, porque o viveram e demonstraram no passado recente, que apenas com todos o conseguiremos. No Congresso Regional de Janeiro e nas decisões internas e externas que se seguirem, o PS terá, outra vez, uma oportunidade para mostrar se quer fazer diferente, ou ficar aprisionado ao caminho que definiu em 2020. A opção é entre continuar a afastar os activos que sobram, ou reaproximar. Alguns continuarão a julgar uma parte do PS irrelevante. Da minha parte, continuo a considerar que devemos ter um PS Madeira inteiro, que reaproxime e congregue a experiência política que escasseia e o pensamento crítico que falta a órgãos sucessivamente eleitos por unanimidade. Um Partido que dispensa os seus – Secretários de Estado, Presidentes de Câmara, Vereadores, Eurodeputados, Deputados, Presidentes do PS, Secretários-Gerais e líderes da JS –, como gente sem valor e que pouco ou nada acrescenta, mas a quem se aponta o dedo como responsáveis na hora dos insucessos, é um Partido sem noção do funil com que por vezes olha para a realidade.

Os partidos não devem ser grupos de amigos, nem claques de fanáticos dispostos a gritar o nome do líder seguinte com a mesma paixão que o anterior - seja quem for, diga o que disser, faça o que fizer, pense o que pensar. São mais do que isso: são espaços de convergência no fundamental, que se constrói com a discussão sobre a divergência circunstancial - e não com a permanente tentativa de diminuir, ofender e eliminar a diferença.

Cá e lá, o PS contará sempre com o meu entusiasmo, solto e desprendido: o de quem nunca precisou que lhe abrissem a porta e puxassem cadeiras na fila da frente para lutar por aquilo em que acredita - independentemente das lideranças. Disse sempre o que pensava. Não duvido, por um minuto que seja, que a Madeira precisa de uma mudança. Para que ela aconteça, todos seremos poucos. Um partido disponível para coligar-se com outros e com a sociedade civil não começa por excluir os seus, enquanto grita que faz o contrário.

Os Socialistas conhecem-me bem e sabem ainda melhor onde me posiciono: no passado, no presente e no futuro, sempre do lado de uma Madeira melhor. Mas sei interpretar os sinais – e este é o tempo de outros decidirem, de acordo com a sua consciência e enfrentando as consequências. Também sei que um dia voltaremos a festejar os sucessos do PS Madeira, que serão os sucessos dos Madeirenses e da Madeira verdadeiramente Livre com que muitos sonhamos. É por ela que continuaremos a lutar - todos os dias, em todo o lado.