O professor Cafôfo preso a 2013

João César Monteiro, o realizador de cinema que tinha tanto de polémico como de génio, disse por alturas do Verão quente, esperar que a liberdade proporcionada pelo 25 de Abril trouxesse aos seus companheiros de profissão, aquilo que durante os anos de ditadura nunca deram mostras de possuir: “dois dedos de imaginação, uma pitada de inteligência, um nadinha de subtileza e delírio, uma nesga de rigor poético.”

Lembrei-me desta frase a propósito do ‘regresso’ à política regional do professor Cafôfo, e notem que o ‘regresso’ está entre aspas, porque só regressa quem parte, e o exílio dourado do professor Cafôfo foi apenas um simulacro.

O antigo professor de História, antigo dirigente sindical, antigo presidente de câmara, antigo líder do PS-madeira, antigo deputado, antigo professor (novamente), futuro antigo secretário de Estado, e agora futuro antigo-qualquer-coisa, tem-se multiplicado em entrevistas, artigos de opinião e bitaites avulsos, mas em nenhum momento apresenta uma ideia nova para a Madeira. Um projecto de desenvolvimento. Uma estratégia para o futuro dos madeirenses. Um rasgo de pensamento. Nada.

Já passaram 10 anos desde que chegou à política madeirense. Um mandato e meio na câmara do Funchal, uma liderança partidária, dois anos como deputado regional, uns meses a correr o mundo como secretário de Estado, e esperava por isso, por essa experiência acumulada, uma nova postura, mais concreta e menos abstractas. Mas não, o professor Cafôfo, continua em 2013.

Acena com um discurso vazio e gasto. Cheio de lugares-comuns, recuperando “as pessoas”, os “madeirenses e as madeirensas”, a “sociedade civil”, a sua “missão que é a Madeira” e, a minha preferida, “o congregar”. Tudo isto serviu para enganar as “pessoas” em 2013, quando esta narrativa parecia verdadeira e sincera. Mas a realidade, os anos seguintes, em que rebentou com duas coligações de partidos, em que saiu da câmara meses depois de jurar a pés juntos amor eterno aos “funchalenses e às funchalensas”, em que enganou meio partido para chegar ao poder (e depois enganou a outra metade para lá se manter) e depois não foi capaz de capitalizar o melhor resultado do PS na Madeira para ser governo, em que foi embora para voltar ao ensino, mas nem pôs um pé numa sala de aulas e já estava a viajar pelo mundo fora a defender os “emigrantes e as emigrantas”, trataram de desmentir.

Este é o património político do professor Cafôfo. Um percurso errático, feito aos tropeções (e aos empurrões), que tal um eucalipto, secou tudo à sua volta no PS. Só restou a mediocridade, o carreirismo e um enorme vazio ideológico, de quem o professor Cafôfo tem sido o porta-voz.

Teresa Maria