Costa acredita em pura coincidência de prazos com a divulgação do seu inquérito sobre caso das gémeas
O primeiro-ministro afirmou na segunda-feira que só pode entender como pura coincidência o Ministério Público ter instaurado um inquérito sobre o caso das gémeas tratadas no Hospital de Santa Maria no dia em que divulgou o seu inquérito.
António Costa respondeu desta forma à pergunta que lhe foi colocada, durante uma entrevista à TVI, sobre o caso das gémeas luso-brasileiras que receberam tratamento em Portugal com um dos medicamentos mais caros do mundo, em relação ao qual o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, confirmou ter recebido um email do seu filho, Nuno, ao qual deu seguimento através de um ofício para o Governo.
Questionado se soube que o seu antigo secretário de Estado da Saúde Lacerda Sales se encontrou com o filho do Presidente da República, o líder do executivo respondeu que não e disse que só conheceu este caso pelas reportagens TVI, que começaram a ser transmitidas em 03 de novembro.
"Fui ver agora o que é que se tinha passado. De facto, chegou um ofício da Presidência da República e foi reencaminhado para o Ministério da Saúde um conjunto de seis ofícios, um relativo àquele caso e cinco relativos a outros casos", adiantou.
Depois, o primeiro-ministro foi interrogado se o facto de o inquérito no Ministério Público ter sido aberto no mesmo dia em que foi conhecido o caso contra si, extraído a partir da Operação Influencer, é para si uma coincidência.
"Bom, eu só posso entender como uma coincidência. Tem ideia que não seja?", reagiu o líder do executivo, dirigindo-se ao jornalista Nuno Santos.
Nuno Santos ripostou que apenas faz perguntas e o primeiro-ministro observou: "Ouça, eu não sou dado a teorias da conspiração e não me passa pela cabeça que não seja uma pura coincidência".
"Quer dizer, vamos lá a ver, este caso começou a ser tratado na TVI. Creio que quatro dias antes do comunicado que me forçou à minha demissão. Se o processo foi aberto nesse dia, eu só posso entender como uma coincidência. Se não fosse coincidência, estávamos num cenário que é melhor não pensarmos nele", acentuou.
Interrogado sobre qual o pior momento que guarda dos oito anos como primeiro-ministro, António Costa referiu o dia 17 de junho de 2017".
"Foi o momento mais terrível que vivi, de impotência, de drama. Cheguei a Pedrógão no dia a seguir, os cadáveres ainda estavam nas viaturas, nunca me esquecerei do que vi, do cheiro, de toda essa sensação. Esse foi o pior dia da minha vida enquanto primeiro-ministro e perante uma sensação de impotência perante um fenómeno natural de uma dimensão terrível. Pior do que a covid-19", disse.
Interrogado se já se encontrou com o antigo secretário de Estado, advogado e seu amigo Diogo Lacerda Machado, que foi detido para interrogatório no âmbito da Operação Influencer, "Ele é meu amigo. Sei que muita gente interpretou mal quando eu disse que utilizei uma infeliz expressão com melhor amigo. Felizmente, ele sabia bem o que é que eu queria dizer", salientou.
Questionado se sabia que o Presidente da República faz hoje anos, António Costa referiu que não se lembrava e caracterizou-se como péssimo para datas de aniversários".
"Ainda bem que me lembra, porque assim ligarei o mais cedo possível a dar os parabéns".
Só uma vez é que lhe liguei praticamente à meia-noite e ele sinalizou que as boas felicitações são as que são dadas ao princípio da manhã, e não ao final da noite", revelou.
Já sobre o seu futuro profissional depois de abandonar funções políticas, o primeiro-ministro disse que ainda não sabe e que ainda não pensou muito nisso.
"Exerci uma profissão antes de estar na vida política, fui advogado mais de dez anos. E gostei muito de ser advogado. Não é fácil para quem esteve muitos anos na vida política regressar à advocacia, porque facilmente o tipo de advocacia que é solicitado a quem esteve tantos anos sem praticar é um tipo de advocacia que eu não desejo fazer", justificou.
Comentou, depois, que a vida política não é só exercer cargos políticos.
"Eu não disse que sairia da vida política, disse que não exerceria cargos públicos. Tenciono ter opiniões, posso escrever para jornais, posso ir a manifestações, posso ir a comícios", assinalou.
Interrogado se admite ser comentador, novamente, respondeu: "Acho que não devo".
"Quem exerceu funções de primeiro-ministro deve ter algum resguardo, algum recato a ir comentar quem vem a seguir", justificou.
Ainda sobre o seu futuro profissional, acrescentou: "Vivo do meu trabalho". "Portanto, tenho de ir trabalhar, é o que irei fazer, com gosto".