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Que se tenha coragem

N semana que agora terminou, o país foi confrontado com buscas a diversos pontos nevrálgicos do poder. Desde residências de ministros à residência oficial do Primeiro-Ministro, os órgãos de polícia criminal foram assertivos e pragmáticos- nada ficou por visitar. A consequência desta investigação foi simples: um governo de maioria absoluta derrubado, com a demissão do Primeiro-Ministro por suspeitas de corrupção e por crimes cometidos no exercício do mandato.

Dificilmente, haverá algo mais vergonhoso para uma Democracia. A pouco menos de seis meses do quinquagésimo aniversário do abril da liberdade, o país vê-se a braços com a maior ameaça para qualquer regime: a suspeita de que a classe política é pouco séria.

Certamente ser “suspeito” não é o mesmo que ser condenado, mas dificilmente, um cidadão honrado, trabalhador e humilde deixará de ter a ideia de que “onde há fumo, há fogo.”

Beneficiam os extremistas que fazem da gritaria contra a corrupção a sua bandeira, não podendo, provavelmente, pedir vitória maior.

Em todas as crises surgem janelas de oportunidade. A maioria absoluta da instabilidade liderada pelo PS levou o país ao pântano: político, social e económico. São hospitais que não funcionam, justiça que não existe e serviços públicos que têm filas de espera superiores a sete horas para revalidar um cartão do cidadão ou pedir um apoio na Segurança Social.

Em vinte e dois anos, o PS abandonou o Governo de Portugal por três ocasiões: numa o país estava de tanga, na segunda tinham levado o país à bancarrota, tendo Sócrates sido preso por suspeitas de crimes praticados no exercício das funções de PM e, esta semana, António Costa demitiu-se por estar a ser investigado por tráfico de influências. É preciso refletir se a desonestidade não lhes está na massa do sangue.

Que os cinquenta anos de abril sejam o mote para as reformas necessárias. Da justiça à educação, da comunicação social às finanças, mas que não se tenha medo de refletir sobre a reforma do sistema político. Que se perceba que o mais importante não são as regras, mas os princípios. Que se perceba também que as “incompatibilidades” aprovadas pela esquerda portuguesa, quanto mais complexas são, maior a opacidade e o engenho dos potenciais infratores. Não se educa a ser sério. Ou se é, ou não se é.

Que se acabe com a funcionalização da política e se possa, de facto, criar um quadro atrativo para os melhores querem lá estar. Que se tenha coragem.