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Análise

A “causa” de Cafôfo faz-se na Região

A situação actual não se compadece com líderes a meio termo nem com lealdades férreas a Lisboa

1. Paulo Cafôfo foi rápido na decisão de regressar à liderança do PS-M. A derrota profunda sofrida nas eleições justifica a pressa. Pertence-lhe o melhor resultado de sempre alcançado pelo partido em regionais. Esteve, há quatro anos, muito próximo de destronar o PSD do poder e colocou os socialistas num patamar a que não estavam habituados. O efeito Cafôfo, que surgiu, não esqueçamos, fora do establishment partidário militante, tornou-se sério quando conseguiu vencer a Câmara do Funchal, em 2013. Foi reeleito com facilidade e trilhou um caminho eficiente até às Autárquicas de 2021, momento em que viu Miguel Gouveia perder, com muito amadorismo pelo meio, o município para o profissional Pedro Calado. Deixou, depois, a liderança, num acto pouco reflectido e prejudicial para o partido, e rumou a Lisboa para integrar o governo de António Costa, numa pasta que lhe assentou como uma luva.

Perante a dimensão da derrota socialista do passado dia 24 de Setembro optou por se chegar à frente, para relançar a esperança na esboroada alma socialista, estancando, com isso, o dealbar da ‘caça às bruxas’, e de fazer marcação cerrada à trilogia governativa PSD/CDS/PAN. O tempo não é para reflexões. É de acção. A perda de mais de 22 mil votos e o arranque de uma nova legislatura não se compadecem com exercícios de metafísica para consumo interno e fausto de egos que deixaram de ser solução há muito no PS-M.

Paulo Cafôfo vai ter de liderar, marcar o ritmo, orientar, protagonizar. Não pode deixar para terceiros – por mais fiéis que lhe sejam – essa tarefa. Mas debate-se com um problema efectivo. Como secretário de Estado das Comunidades Portuguesas está mais no estrangeiro do que no País. Terá de comandar o partido na Madeira de fora e lidar com um grupo parlamentar que não foi por si escolhido.

A missão é hercúlea. Vai conseguir marcar a agenda não estando no terreno, não reagindo de imediato às decisões do governo? A que dirigentes com traquejo e desenvoltura política vai confiar esse trabalho? A liderança do grupo parlamentar é crucial nos tempos próximos. Victor Freitas, cara do pior resultado do PS, em 2015, é a solução acertada para um mandato onde a Assembleia vai assumir um papel ainda mais preponderante?

Para ter sucesso e se quiser abraçar “a causa da sua vida”, Cafôfo, que emergiu fora da máquina autofágica socialista, vai ter de optar por um regresso em definitivo à Região. A situação actual não se compadece com líderes a meio termo nem com lealdades férreas a Lisboa.

Que autonomia lhe dá o cargo de secretário de Estado com o de líder regional de um partido que não pode pensar nem agir da mesma forma que o Largo do Rato?

As próximas Regionais já estão em marcha e há muitos dossiers que precisam de resolução urgente. Não há nenhuma certeza de que as próximas eleições sejam em 2027.

2. Se a coligação ‘Somos Madeira’ conseguiu, in extremis, segurar o poder, não é menos verdade que tem de começar a pensar no que quer para o futuro, porque o tempo das maiorias absolutas folgadas fazem parte de um passado que não vai regressar. E já todos percebemos, por A mais B, que o CDS desapareceu como partido independente. É hoje uma secção do irmão maior, contentando-se com meia dúzia de lugares na administração.

O eleitorado madeirense está mais maduro, mais exigente e já percebeu que a lógica da preservação do poder pelo poder não garante alternativas ou mudança geracional, nem captação de novos quadros. Basta olhar para a composição do novo governo. Apenas duas caras novas, numa equipa em que as mulheres são apenas 25% do total e onde a idade média ronda os 59 anos. Onde está a renovação desejada, a capacidade de recrutamento na sociedade civil e a vontade de atrair mais jovens qualificados para uma máquina que roda com os mesmos de sempre?