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Sabemos muito mais para fazer tão pouco

A saúde física e psicológica é um bem precioso, fundamental para a qualidade de vida individual e comunitária, assim como para a evolução da humanidade. Esta óbvia constatação tem permitido um forte investimento, na investigação e no estudo de respostas cada vez mais eficazes que nos permitem viver com saúde e autonomia o maior tempo possível.

Em Portugal está a crescer uma gestão dos serviços de saúde que minimiza o essencial, focando-se em objetivos de gestão financeira, alheios, na maior parte das vezes, às necessidades fundamentais dos cuidados globais das pessoas com doença. Tantas vezes nos sentimos invisíveis, por trás de um computador, onde o que importa parece estar no relato dos sintomas, interessando pouco o que naquele momento nos fragiliza e assusta.

Conheço as razões e os motivos que o sistema apresenta pera justificar este tipo de atendimento mas continuo a considerar que a sensibilidade e tempo de dedicação às pessoas com dor e em sofrimento não deviam ser desvalorizados nem secundarizados. As pessoas não são números, e a doença não se resume a estatísticas.

Felizmente nem tudo assume esta tendência. Há pouco tempo acompanhei o processo de tratamento de três amigos, em situações de saúde muito delicadas, e percebi que felizmente existem serviços públicos e privados que se destacam pela qualidade de atendimento, aliando o rigor técnico aos cuidados emocionais que as situações assim exigiam. Atentos ao perfil de personalidade das pessoas em questão e à especificidade das intervenções tiveram e continuam a ter um olhar onde a pessoa se sente pessoa para além da sua doença. Numa das situações que acompanhei mais de perto, o espaço físico, pensado e desenhado nas subtilezas do objetivo, potencia o bem-estar e a esperança da cura. Os cuidadores nas suas diferentes áreas são pessoas atentas, disponíveis, que cuidam com rigor não perdendo o sorriso. Respeitam o doente e os seus familiares nunca esquecendo a relação, a base de qualquer intervenção em saúde. Num lugar de doença tão profunda, às vezes até terminal, respira-se saúde.

Há profissionais muito bem formados em Portugal, há pessoas muito dotadas e competentes para cuidar, há boas e más condições de trabalho e remunerações, há muito desagrado e oportunismo, mas na base estão sempre os doentes. Há profissões que eticamente não deveriam nunca esquecer a razão da sua existência. As pessoas com doença precisam de cuidados, de carinho, de atenção, de sorrisos e compreensão. Quando isto acontece, e eu vi acontecer, tudo melhora e a recuperação, ainda que tantas vezes difícil, supera as expectativas.

O serviço público e privado em Portugal tem tudo para funcionar a alto nível de desempenho. As políticas da saúde não estão a acompanhar a tendência nem as necessidades. Sabemos muito mais para fazer tão pouco. É preciso criar condições para que os profissionais de saúde possam sentir-se respeitados e protegidos nas suas necessidades. É preciso investir. Se queremos ser um país desenvolvido é obrigatório termos um serviço de saúde de excelência, para todos os que dele precisam.

Não há razão para não se investir mais e melhor. A gestão de qualquer serviço de saúde não pode nunca esquecer a fragilidade que as doenças trazem às pessoas. Todos sabemos ou iremos saber o que isso significa e, nesses dias e nesse tempo, vamos desejar que nos olhem nos olhos com um sorriso e façam tudo o que for preciso e possível para aliviar a dor e minimizar o nosso sofrimento. Com eficácia, profissionalismo e um toque de esperança.