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UE deve reduzir dependência da China para ter espaço de decisão

Foto Shutterstock
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O eurodeputado alemão Reinhard Butikofer defendeu na quinta-feira que a União Europeia (UE) deve reduzir as suas dependências da China para ter capacidade para tomar decisões e evitar o que se passou na guerra da Ucrânia.

Butikofer, que preside à delegação do Parlamento Europeu (PE) para as relações com a China, alertou que uma eventual ação militar chinesa contra Taiwan teria de ter uma resposta da UE, que poderia ficar condicionada com as suas dependências.

"Reduzir as dependências é importante para proteger politicamente o nosso espaço de decisão", disse Butikofer, durante uma conversa por videoconferência com o diretor para a Resiliência Democrática no Centro de Análise de Políticas Europeias (CEPA, na sigla em inglês), Sam Greene, a que a Lusa assistiu.

Butikofer lembrou que quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro do ano passado, a resposta europeia foi condicionada pela dependência energética dos diferentes Estados-membros da UE em relação aos fornecimentos russos.

"A China de Xi Jinping é muito mais preocupante e muito mais poderosa do que a Rússia de [Vladimir] Putin alguma vez foi ou será. A nossa dependência da China é muito mais generalizada do que a nossa dependência da Rússia tem sido até agora", alertou.

O eurodeputado dos Verdes deu o exemplo do seu país, a Alemanha, que estava "fortemente dependente" do abastecimento energético russo há um ano.

Referiu que quando a chanceler Angela Merkel deixou o governo -- que foi substituído por uma coligação de que os Verdes fazem parte liderada por Olaf Scholz --, 55 por cento de todo o consumo de gás no país era baseado em importações russas.

"Quando se olha para a China, as dependências são mais ameaçadoras", afirmou.

Citou o "monopólio da China" quanto à capacidade de processamento de matérias-primas industriais, bem como ao nível de produtos básicos para os sistemas de saúde europeus.

"As máscaras faciais, por exemplo: não tínhamos [na UE] qualquer capacidade produtiva quando ocorreu a pandemia" de covid-19 em 2020, recordou.

Butikofer disse que a UE tem de tirar lições do que aconteceu com a pandemia de covid-19 e com a guerra na Ucrânia, mas admitiu haver "uma certa relutância" entre os europeus para que isso possa acontecer de imediato devido ao fator russo.

Referiu que muitos europeus consideram que não se deve enfrentar a China ao mesmo tempo com que se lida com a Rússia, mas defendeu que a UE não pode "continuar a deslizar para um papel de dependência".

Recorreu novamente a um exemplo alemão para lembrar que o grupo Volkswagen foi uma das multinacionais que "puserem demasiados ovos no único cesto chinês".

O grupo alemão, assinalou, depende da China em 40% do seu volume de negócios e metade dos seus lucros são gerados no gigante asiático.

"Não estou a dizer que a Europa esteja numa posição em que não possa inverter essa tendência", disse.

O eurodeputado ressalvou que o nível de dependência que exemplificou não é o mesmo na economia mais ampla da Europa ou mesmo da Alemanha.

Butikofer admitiu, porém, que aliviar as dependências europeias da China levará tempo, como tem acontecido em relação à Rússia, por ser necessário construir capacidades de processamento alternativas.

"Ficarmos menos dependentes da China significa cooperar mais com outros parceiros, como o Japão, como os países da ASEAN [Associação das Nações do Sudeste Asiático], como a Índia, como os países africanos", disse.

Ainda em matéria de dependência da China, Reinhard Butikofer considerou que a UE deve "evitar ao máximo" qualquer possibilidade de controlo chinês do ponto de vista tecnológico, designadamente com a rede 5G.

"É um risco demasiado grande permitir que uma empresa controlada pelo PCC [Partido Comunista Chinês] entre na espinha dorsal do nosso sistema de comunicações do século XXI", afirmou, numa alusão à empresa tecnológica Huawei.

Considerou também que a China não deve beneficiar do progresso da indústria de semicondutores em diferentes países para modernizar as suas capacidade de defesa, dada a política de uso civil e militar do desenvolvimento tecnológico.

Apesar dos alertas em relação às dependências chinesas da UE, Butikofer defendeu que não se deve isolar a China, que "é o principal parceiro comercial de talvez 120 países do mundo".

Nesse sentido, disse que a UE e os Estados Unidos devem cooperar para criar "alternativas ao que a China oferece", dando o exemplo do investimento em infraestruturas globais, apesar de haver diferenças entre os dois parceiros do Atlântico.

"São coisas que deveríamos fazer em conjunto. Sempre tivemos algumas diferenças entre Washington e a Europa, mas até agora temos conseguido e penso que o básico é muito sólido", acrescentou.

Com sede em Washington, o CEPA é uma instituição sem fins lucrativos "centrada no reforço da aliança transatlântica através de investigação, análise e programas de vanguarda", segundo a respetiva página na Internet.