País

Temido vai assumir funções como deputada

None

A ex-ministra da Saúde, Marta Temido, afirmou hoje que sai do Governo "sem amargos de boca", agradeceu aos portugueses e ao seu primeiro-ministro, e adiantou que vai assumir funções como deputada na Assembleia da República.

Marta Temido falava aos jornalistas no Palácio de Belém, em Lisboa, à saída da cerimónia de tomada de posse do novo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, na qual esteve presente e foi cumprimentada pelo Presidente da República e primeiro-ministro.

"Não tenho amargos de boca, felizmente. Todos nós temos algumas marcas mais negras no coração mas não tenho amargos de boca", respondeu, depois de ter sido questionada sobre algumas das críticas que lhe foram dirigidas nos últimos meses em que ocupou o cargo.

Temido fez questão de deixar agradecimentos, nos quais incluiu o primeiro-ministro, António Costa, e os portugueses.

"Deixar uma palavra de agradecimento aos portugueses, da parte de quem sempre senti um enorme carinho, à comunicação social que permitiu muitas vezes essa ligação, ao meu primeiro-ministro que sempre me apoiou, aos colegas de Governo, aos dirigentes dos serviços do Ministério da Saúde", enumerou.

Marta Temido, que nas eleições legislativas de janeiro foi cabeça-de-lista do PS pelo círculo de Coimbra, adiantou que vai assumir as suas funções como deputada na Assembleia da República.

"Vou assumir as minhas responsabilidades como deputada pelo meu distrito com muito orgulho e muita honra e, portanto, vou continuar a trabalhar. A política não é necessariamente um exercício que só que se faça no palco ou na exposição, é um exercício de cidadania e eu não acredito em quem diz que não é político. E eu tenho a política dentro de mim, porque isso significa escolhas públicas", rematou.

Marta Temido mostrou-se "grata" pelas funções que assumiu no Ministério da Saúde desde 2018, por ter servido o país, o Governo e o SNS, mas afirmou ter consciência de que "há momentos na vida e na vida política em que a forma como somos encarados pode ser como fazendo parte da solução ou como fazendo parte do problema".

"E eu considerei que a forma como o setor perspetivava a ministra da saúde era como fazendo parte mais do problema do que da solução e, portanto, com toda a frontalidade, entendi que este passo era importante para aquilo que eu entendo que é o essencial que é o cumprimento do programa do Governo, o reforço dos serviços públicos, reforço do SNS, foi por isso que lutei estes anos todos", acrescentou.

Temido entendeu que "este sinal e este criar de espaço numa situação de enorme tensão era necessário".

A agora antiga ministra da Saúde acrescentou ainda que na noite em que pediu a demissão esse pedido prendeu-se com "a circunstancia de ter acontecido um episódio que, não tendo direta relação com o desempenho assistencial do SNS era um episódio de uma gravidade tal que era necessário que houvesse uma responsabilização".

Na madrugada da demissão de Marta Temido, em 30 de agosto, uma mulher grávida morreu depois de ter sido transferida na terça-feira do Hospital de Santa Maria para o Hospital São Francisco Xavier, por ausência de vagas no serviço de neonatologia.

"Como sempre disse, a primeira responsável pelas coisas que correm bem e mal no ministério da Saúde era a ministra e, portanto, a ministra entendeu que estava criado um ambiente que exigia que houvesse uma responsabilidade pessoal e eu entendi que ela devia ser minha", frisou.

Já sobre se deixa algum conselho ao novo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, Temido respondeu que "se os conselhos fossem bons não se davam, vendiam-se", desejando "as maiores felicidades" ao novo membro do Governo.

Marta Temido, de 48 anos, pediu a demissão de ministra da Saúde no passado dia 30 de agosto, mas António Costa pediu-lhe para se manter em funções mais algumas semanas até concluir a aprovação do diploma que regulamenta o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Esse diploma foi aprovado em Conselho de Ministros e apresentado pela própria Marta Temido na quinta-feira.

Natural de Coimbra, Marta Temido é ministra da Saúde desde outubro de 2018, altura em que substituiu nessas funções Adalberto Campos Fernandes.

O Presidente da República deu hoje posse ao novo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, numa curta cerimónia no Palácio de Belém, que durou cerca de quatro minutos e na qual esteve presente a antecessora, Marta Temido.

Manuel Pizarro, médico, especialista em medicina interna, foi secretário de Estado da Saúde nos dois executivos liderados por José Sócrates, entre 2008 e 2011.

No plano político, Manuel Pizarro foi por duas vezes candidato derrotado a presidente da Câmara do Porto, é o líder da Federação do Porto do PS e foi nono na lista de candidatos a eurodeputados socialistas nas últimas eleições para o Parlamento Europeu.

Manuel Pizarro nasceu em 1964, em Coimbra, mas residiu sempre no Porto, cidade em que foi médico no Centro Hospitalar e Universitário de São João e diretor clínico do Hospital da Ordem da Trindade.

Foi deputado do PS na Assembleia da República (2005-2013), tendo integrado a Comissão Parlamentar de Saúde. Entre 2013 e 2021, assumiu o cargo de vereador da Câmara Municipal do Porto.

Mais recentemente, substituiu Carlos Zorrinho na liderança dos deputados do PS no Parlamento Europeu.