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A (in)sustentável escolha de um curso

há cursos que sempre estarão associados a excelentes oportunidade de emprego

Chegamos àquela altura do ano em que os alunos do secundário se preparam para dar um dos passos mais importantes no caminho para se tornarem cidadãos produtivos na sociedade a que pertencem. Falo, em concreto, das fases dos exames nacionais de acesso ao Ensino Superior que, para muitos, servirão de chave para abrir o caminho rumo à área profissional da sua preferência, bastando, supostamente, para isso, a realização com sucesso daquelas que são consideradas as provas específicas de admissão à licenciatura desejada. Isto, claro está, no plano teórico pois já na prática as coisas não são tão lineares quanto isso.

De facto, seria um sistema bastante bem montado, principalmente quando auxiliado pelo sistema de ensino profissional, se ao menos vivêssemos num país com a capacidade (e vontade) de cumprir as propaladas ambições de ser desenvolvido como o resto do mundo ocidental. Mas, como de costume, é tudo fogo de vista pois o “caminho do ensino superior” é muito sinuoso, para não dizer tortuoso, não sendo sempre o seu desfecho aquele que se idealizou romanticamente aquando da escolha de um curso.

É óbvio, na verdade, que há cursos que sempre estarão associados a excelentes oportunidade de emprego tanto em Portugal como no estrangeiro. Destes, os mais conhecidos serão, certamente, os de medicina, direito e os das engenharias.

Por outro lado, existem outras licenciaturas que acabam por oferecer escassas ou nenhumas oportunidades de emprego. Isto ocorre porque o desenvolvimento/promoção desta licenciaturas surge como uma tentativa de modernização social para que se atinja o mesmo nível de desenvolvimento de outros países do mundo ocidental, tentativa esta realizada de forma incompleta. E incompleta porquê? Porque, enquanto que no mundo académico se tenta levar a cabo a modernização através da formação de especialistas “hiper-especializados”, no mundo laboral continua-se a se viver a realidade do “menor denominador comum”. Por outras palavras: continua a haver a preferência pelo contratamento de profissionais formados em cursos mais tradicionais cujo conhecimento apenas envolve parte daquilo que os referidos especialistas conhecem, sendo que esta lógica se verifica tanto no sector privado como no público, ou seja, no sector que é também ele responsável pela promoção dos cursos de especialização.

Do mesmo modo, surge a luta pela sobrevivência combatida entre aqueles que seguem a via universitária e aqueles que seguem a via profissional. De um ponto de vista mais sociológico, nota-se que a preferência de contratação tende a oscilar ao longo do tempo entre o licenciado/mestre e o “profissional” com experiência prática e, apesar de que a partir do início do século se defendeu com fervor a ideia do “se quiseres ter emprego, tens que ir para a universidade”, já há uns anos que o que se verifica é uma preferência da experiência em detrimento do conhecimento especializado, pelo que, naturalmente, há mais vantagens na opção profissional ou outra que forneça tempo de experiência real.

Terminando, há aquele que é o aspeto mais filosoficamente trágico disto tudo. Na atualidade, qualquer escolha em relação a vias académicas ou profissionais futuras deve ser feita com o maior cinismo possível e com o abandono parcial, se não mesmo total, de paixões. Melhor será deixar estas últimas, as paixões, para o tempo em que a vida profissional esteja estabilizada, caso contrário investir-se-á no ficar no limbo da não-empregabilidade. Assim, é necessário pensar no futuro também em termos práticos, ou seja, na hora da escolha do curso, torna-se imperioso perceber se se conseguirá sustento com a dita escolha.

Se for possível fazer bater a bota com a perdigota, melhor mas, pela minha experiência, é mesmo o aspeto da estabilidade financeira no futuro que deve ser o fator fundamental de todo o processo de decisão para a escolha de um futuro. Porque se na idade da inocência a paixão nos tolda o pensamento, na idade do desemprego o arrependimento no-lo molda.