Desporto

"Miguel Albuquerque não gosta de futebol"

Rui Alves teceu elogios à política desportiva implementada por Alberto João Jardim

Foto Hélder Santos/ASPRESS
Foto Hélder Santos/ASPRESS

O presidente do Nacional abordou, ontem à noite, o paradigma actual do clube no programa ‘Prolongamento’ da RTP-Madeira e lamentou o desinvestimento do Governo Regional relativamente ao futebol profissional, na Madeira.

Rui Alves estabeleceu mesmo uma comparação entre as verbas que eram canalizadas por Alberto João Jardim e as que são agora capitalizadas por Miguel Albuquerque.

No entender do dirigente, Alberto João Jardim entendia que “as dimensões do futebol para as equipas da Madeira correspondiam a um natural desenvolvimento do processo autonómico e ao mesmo tempo factor de exaltação popular”, enquanto que com o actual presidente do Governo Regional isso não acontece. Aliás, Rui Alves atribuiu as cinco participações europeias dos alvinegros às políticas desportivas implementadas pelo ex-líder do executivo madeirense.

Não posso obrigar Albuquerque, que não gosta de futebol, a ter a mesma visão. Mas tenho de respeitar. Rui Alves, presidente do Clube Desportivo Nacional

O líder do clube insular - que vai abdicar da sua remuneração salarial, de modo a que não seja “mais um constrangimento para a construção do plantel” – indicou que esta dimensão política “não cabe a quem está a gerir o clube” e reforçou que a gestão fica mais difícil e os riscos aumentam.

“Em 2002, quando subimos à I Liga, o financiamento público era de 3 milhões de euros. Hoje tenho de estar à espera de empréstimos e fins de contrato”, precisou Rui Alves, recordando nomes como Adriano, Paulo Assunção ou Rossato. Hoje, as verbas consagradas nos contratos-programa não conferem margem de manobra para adquirir jogadores de outro gabarito e o próprio risco aumenta em relação à qualidade dos atletas que assinam vínculo contratual.

O facto de ter projectado um Orçamento “acima das capacidades” na temporada transacta, em que assumia claramente a candidatura de subida, mesmo com a sétima 'despesa' mais avultada da II Liga, faz com que o emblema da Choupana transite para a próxima época com um défice de “1 milhão de euros acima das receitas”. O dinheiro vai por isso “condicionar o planeamento”.

Margarida Camacho arrasa gestão de Rui Alves

Antiga responsável pela SAD do clube insular aponta a "prejuízos financeiros graves" da actual direcção em véspera de "dia importante" no tribunal

Em relação às críticas de Margarida Camacho, Rui Alves acusou a ex-dirigente de “apropriação indevida de dinheiro do clube, falsificação de assinaturas em cheques para levantamento de dinheiro e apropriação de dinheiro de quotas dos sócios” depois dos advogados terem concluído que houve “uma apropriação indevida, sistemática, em praticamente quase um ano, com levantamentos sucessivos de dinheiro” com recurso a um “cartão de débito entregue por confiança”.

Há 72% dos sócios que amam o presidente, o problema são os outros 28%. Temos neste momento um processo-crime em relação a um sócio e até estou a consultar um advogado para algumas barbaridades que vão sendo escritas nas redes sociais poderem ter, do ponto de vista estatutário, o caminho que esses senhores merecem. Vão escrever sozinhos, mas sócios do clube não vão ser mais. Rui Alves, presidente do Clube Desportivo Nacional

“Dentro dos 28%, aqueles que suportam nas redes sociais esta personalidade mostram o quanto defendem os interesses do clube. Eu deveria deixar o clube ser roubado, não tomar iniciativa nenhuma e a gestão estava óptima. Só passou a não estar óptima quando ela foi apanhada a se apropriar indevidamente de verbas da instituição”, acrescentou Rui Alves, garantindo que tem “o dever moral e público” de salvaguardar os apoios do Governo Regional.

Recebeu proposta de 25 milhões de euros por 90% da SAD

Rui Alves admitiu ainda que face ao quadro actual, enquanto clube insular, não poderá ter outro caminho senão abrir a porta a investidores estrangeiros e assumiu que abdica da presidência da SAD “se entender que é o melhor para a instituição”.

Neste momento admito que não poderei ter outro caminho. No caso de aparecer uma manifestação de interesse séria e concreta poderemos não ter outro caminho. De resto, como sabe, nessas situações, muitas vezes põe-se o problema se o capital da SAD é vendido em maioria para que o presidente tenha de abdicar ao investidor (...) se tivermos de ir por aí não é a minha continuidade, enquanto presidente da SAD, que vai ser um obstáculo. Rui Alves, presidente do Clube Desportivo Nacional

Rui Alves revelou ainda uma recente abordagem de um grupo que pretendia investir nos insulares.

“Ao longo do tempo já fomos abordados. Por exemplo, tive uma abordagem antes das eleições de um grupo. Por 25 milhões de euros vendíamos 60% do capital social da SAD, a parte detida pela SGPS do Nacional, e quem estava a tratar disse que se fosse 90% fazíamos negócio. Disse que não. Não cheguei a saber se isso iria acontecer”.

Apesar de se ter sentado à mesa para discutir o assunto, Rui Alves não concorda com o modelo que está a ser seguido em Portugal e que "está a perturbar o funcionamento das instituições", mas "se for esse o caminho para competir com os outros emblemas" então a entrada de capital poderá concretizar-se.

Depois “se os sócios não rectificarem" a decisão "em Assembleia-Geral, naturalmente que nesse exacto momento” irá pedir “a demissão e os sócios tomarão conta da instituição”.