A Guerra Mundo

Taiwan e Ucrânia defendem direito a existir

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A República Popular da China (RPC) considera Taiwan uma questão interna, em que nenhum país deve interferir, mas o representante de Taipé em Lisboa defende o contrário e traça um paralelismo com a Ucrânia.

"É como a guerra na Ucrânia: a Rússia quer expandir o seu território, mas para os ucranianos trata-se de defender a sua liberdade, manter a sua soberania e a sua democracia. Nós temos a mesma determinação que o povo da Ucrânia", disse Chang Tsu-che à Lusa.

Para o chefe do Centro Económico e Cultural de Taipé em Lisboa, um eventual ataque da RPC visaria apenas "expandir o seu território", como no caso da Rússia quando invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro deste ano.

"Para nós, seria defender o nosso direito, defender a nossa casa, e isso faz toda a diferença", afirmou.

Esta perspetiva é comungada por muitos taiwaneses e alguns deles, uma dezena, responderam ao apelo do Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e juntaram-se à legião internacional que luta ao lado dos ucranianos contra os russos.

Em novembro, Taiwan registou a primeira baixa de um voluntário seu na guerra da Ucrânia: Tseng Sheng-guang, 25 anos, morreu em combate no leste do país europeu, a milhares de quilómetros de distância de casa, segundo a televisão britânica BBC.

Num comunicado divulgado na altura, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Taiwan homenageou Tseng por ter morrido a "ajudar o povo ucraniano na defesa da liberdade e da democracia".

Após a morte de Tseng, alguns dos voluntários de Taiwan na Ucrânia divulgaram mensagens em vídeo sobre a sua participação na guerra.

"Muitas pessoas pensam que entrámos numa guerra que não é a nossa. Eu não posso falar por todos. Para mim, a Ucrânia e Taiwan não estão assim tão distantes. Temos antecedentes e histórias semelhantes", disse um dos voluntários, cuja voz foi dissimulada digitalmente.

"Espero que a guerra nunca chegue ao nosso país", acrescentou, segundo o jornal em inglês Taiwan News.

Em declarações citadas pela BBC, um outro combatente de Taiwan justificou a sua participação na guerra com o medo de que, "se a Rússia ganhar, a China faça o mesmo a Taiwan".

Na entrevista à Lusa, Chang Tsu-che admitiu que Taiwan tem recebido mais apoio internacional, sobretudo durante a crise de agosto, quando a RPC reagiu com manobras militares sem precedentes à visita a Taipé da então presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi.

"Talvez devido à guerra na Ucrânia, a ambição territorial da Rússia e da China tornou-se mais visível para o mundo", comentou.

Chang disse que o Presidente da RPC, Xi Jinping, consolidou o seu poder no recente congresso do Partido Comunista Chinês, mas considerou que o regime de Pequim sofre da fragilidade de nunca ter permitido que o povo elegesse os seus líderes.

"O movimento A4 é um sinal", defendeu, referindo-se aos recentes protestos na China em que os manifestantes exibiam uma folha de papel em branco, no que foi interpretado como uma representação de que não podem dizer o que gostariam.

Chang considerou que em momento de pressão interna, o regime de Pequim procura situações fora do país que desviem a atenção, e Taiwan é uma delas.

"Nós temos de ter cuidado, mas estamos sempre preparados. No entanto, queria pedir que o mundo ocidental apoie mais Taiwan, porque quanto mais ligados estivermos ao mundo a China Popular terá mais preocupação em lançar uma guerra", disse.

Chang referiu que a União Europeia, a NATO e vários países têm manifestado apoio no sentido de que seja mantida a situação atual, em que RPC e Taiwan possam existir sem guerra.

"Como Taiwan é uma democracia como Portugal, também esperamos mais apoio de Portugal", acrescentou.