Mundo

Alemanha e Israel condenam gesto nazi em acção pró-Bolsonaro

None
Foto Último Segundo

Representantes da Alemanha, Israel e instituições como o Museu do Holocausto no Brasil criticaram hoje apoiantes do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que fizeram um gesto nazi durante um protesto contra o resultado das eleições presidenciais.

"O uso de símbolos nazistas e fascistas por "manifestantes" claramente de extrema-direita é profundamente chocante. Apologia ao nazismo é crime!", escreveu Heiko Thoms, embaixador da Alemanha no Brasil, numa publicação na rede social Twitter.

"Não se trata de liberdade de expressão, mas de um ataque à democracia e ao Estado de Direito no Brasil. Esse gesto desrespeita a memória das vítimas do nazismo e os horrores causados por ele", acrescentou.  

Na quarta-feira, manifestantes 'bolsonaristas' que bloqueiam a rodovia BR-163 perto da cidade de São Miguel do Oeste, em Santa Catarina, fizeram uma saudação semelhante ao 'Sieg Heil' utilizada pelo nazismo, durante um protesto em frente ao 14.º Regimento de Cavalaria Mecanizado, base do Exército, que foi filmados e divulgado pelos 'media' e nas redes sociais.

A embaixada de Israel também usou as redes sociais para divulgar um comunicado oficial sobre as saudações nazis em Santa Catarina, no qual afirmou rejeitar "qualquer forma de referências nazis no Brasil e em geral".

"Estamos preocupados com esse fenómeno aqui e contamos com as autoridades competentes para que tomem as providências necessárias para acabar com esse tipo de atos ultrajantes", acrescentou.

O Ministério Público de Santa Catarina informou que está a avaliar o vídeo para identificar as pessoas envolvidas com o gesto, que em tese configura apologia ao nazismo, crime previsto pela lei brasileira.

Numa nota, o Museu do Holocausto do Brasil criticou o gesto, afirmando que "estética e contexto (social e histórico) deveriam ser suficientes para que não precisássemos de nos deparar com cenas ofensivas como estas".

"A tentativa de associar esse gesto ao juramento à bandeira é mais um ultraje [sobre o qual] a Justiça e a educação antifascista precisarão se debruçar", acrescentou o comunicado do Museu do Holocausto, respondendo a comentários de alguns apoiantes do Presidente brasileiro que disseram que o gesto era na verdade uma saudação do Exército brasileiro.

Desde a madrugada de segunda-feira apoiantes de Bolsonaro realizam protestos que incluíram bloqueios de estradas por camionistas e até manifestações massivas que foram até aos portões dos quartéis em dezenas de cidades do país.

Em ambos os casos, os manifestantes exigiram uma "intervenção militar" que, segundo cartazes exibidos nas passeatas, deveria impedir o "comunismo" de tomar o poder no Brasil, numa clara incitação a um golpe de Estado que está a ser ignorada pelas Forças Armadas até ao momento.

O movimento dos camionistas tem vindo a perder força depois de Bolsonaro ter reconhecido a sua derrota na terça-feira, após 44 horas de silêncio, e determinado a abertura do processo de transição com a equipa de Lula da Silva, prevista para esta quinta-feira. 

Com 100% dos votos contados, Luiz Inácio Lula da Silva venceu as presidenciais de domingo por uma margem estreita, recebendo 50,9% dos votos, contra 49,1% para Jair Bolsonaro, que procurava obter um novo mandato de quatro anos.