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Rússia culpa Estados Unidos por adiamento no diálogo de desarmamento nuclear

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A Rússia explicou hoje que adiou as conversações com os Estados Unidos sobre desarmamento nuclear devido à "falta de vontade" de Washington de levar em consideração as prioridades de Moscovo.

"Estamos perante uma situação em que os nossos colegas americanos, em várias áreas, demonstraram não só uma relutância em perceber os nossos sinais, ter em conta as nossas prioridades, como atuaram em sentido contrário", disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Riabkov, citado pela agência Tass.

Riabkov argumentou que a Rússia percebeu que os EUA estavam focados "exclusivamente na questão do regresso das inspeções", no âmbito do tratado Novo START.

"No contexto de uma profunda divergência entre Moscovo e Washington, não apenas em prioridades, mas também em valores, não vimos o menor desejo por parte dos EUA de avançar nessa direção", explicou Riabkov.

O vice-ministro disse que a Rússia e os Estados Unidos ainda não conseguiram desenvolver plenamente o programa de trabalho da comissão consultiva bilateral sobre o Novo START, que se realizará entre hoje e 06 de dezembro, no Cairo.

Riabkov também sugeriu que a campanha militar russa na Ucrânia influenciou a estruturação do diálogo na capital egípcia.

"O controlo de armas e o diálogo nesta área não podem ser imunes ao que acontece em redor. E o quadro geral é bastante complicado, tendo afetado as negociações", justificou o vice-ministro russo, admitindo que o conflito na Ucrânia "impactou o tema".

Riabkov avançou ainda que a Rússia proporá aos EUA novas datas para a reunião, mas admitiu que é improvável que a comissão se reúna antes do final do ano.

"Insisto: não se trata de um cancelamento, mas de um adiamento. Em breve, vamos sugerir novas datas aos americanos. Mas isso não vai acontecer de imediato", disse o vice-ministro.

A reunião tinha sido anunciada por Riabkov depois de o diretor do Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia, Serguei Narishkin, e o diretor da CIA, William Burns, terem discutido, em Ancara, o crescente risco nuclear e as tensões internacionais resultantes da intervenção militar russa na Ucrânia.

Os Estados Unidos suspenderam o diálogo sobre controlo de armas, após a invasão russa da Ucrânia.

Por sua vez, em agosto, Moscovo informou Washington da sua decisão de proibir as inspeções 'in loco' do seu arsenal de armas nucleares por parte dos EUA, alegando dificuldades em fazer o mesmo nos EUA, devido às sanções ocidentais sobre autorizações de sobrevoo e concessão de vistos a autoridades russas.

Em fevereiro de 2021, o Presidente russo, Vladimir Putin, e seu homólogo norte-americano, Joe Biden, prorrogaram por cinco anos o único tratado de desarmamento nuclear que sobrevive entre as duas potências, assinado em 2010.

O Novo START, que inclui um sistema de inspeção de arsenais, procura reduzir o número de ogivas nucleares em 30%, para 1.550 em cada país.