Análise

12 desejos no arranque de nova odisseia

Que 2022 nos traga saúde, líderes em vez de seguidores e ciência em vez de palpites

O ano começa quase sempre com tempo para traçar metas. Assim, mais do que cumprirmos uma tradição, à boleia das passas, deixamos 12 desejos:

. Que a saúde seja parceira da nossa existência e nos fortaleça num momento em que importa enfrentar adversidades, crises e o teimoso vírus com energia redobrada. Para tal, muito pode contribuir uma comunicação lúcida por parte de quem tem como missão explicar os contornos pandémicos com precisão e definir procedimentos com clareza.

Apesar de ter sido um ano predominantemente “aceitável” - a julgar pelas respostas ao inquérito colocado na nossa plataforma digital - 2021 chegou ao fim com máximos impensáveis em termos de casos positivos de covid-19 porque essa é agora a lógica instalada. Ou seja, como ao acréscimo exponencial de infecções não corresponde, na mesma proporção, internamentos e mortes, ganha terreno a tese que estamos num contexto diferente.

Mesmo que quem decide não o diga, só assim se compreende a diminuição dos dias de isolamento dos infectados, a valorização mediática dos casos recuperados em menor espaço de tempo e o abrandamento de testes. Tudo sem descurar as atitudes preventivas e de protecção, a inoculação com a dose de reforço, sobretudo a grupos de risco, o uso de máscara e a prudência social.

O que falta saber é se depois da dócil variante Ómicron não surge uma outra mais cruel que obrigue a novos ziguezagues e restrições, a mais confusões e alucinações. Infelizmente, como se já não bastasse os efeitos devastadores da pandemia, começa a ser preocupante perceber que com o aumento de casos cresce também o número de entendidos em coisa nenhuma a que se juntam os habituais peritos em ameaças, a tribo dos negacionistas e os mentores do caos social. Fartos de problemas e da gestão da coisa pública assente no medo, os que sofrem pedem soluções, bom senso e, ainda, fármacos em vez de zaragatoas, líderes em vez de seguidores e ciência em vez de palpites.

. Que a prepotência dê lugar ao diálogo e que a arrogância seja suplantada pela capacidade negocial, máxima que serve para os políticos de cada lugar. A este nível, com eleições legislativas à porta, importa que os poderes mudem de postura e sejam intelectualmente honestos. Estamos fartos do contencioso que deixa em São Bento dossiers pendentes e um rol de desculpas fáceis na Quinta Vigia, prontas a usar quando há impasse e desespero.

. Que a solidariedade feita de gestos seja uma constante, mesmo que haja cada vez mais necessitados e escasseiem os recursos. Os últimos números, que nos colocam na liderança nacional em termos de risco de pobreza, devem motivar medidas inclusivas contínuas e robustas.

. Que haja maior atenção aos pobres e acção em tempo real para que não caiam definitivamente nos perigos sociais e sejam afectados por desgraças suplementares.

. Que não falte dinheiro nas contas de cada cidadão e que se houver margem, regressem os saudáveis hábitos de poupança e os investimentos que mexem com a economia.

. Que haja trabalho para todos os que querem contribuir para o futuro colectivo, devidamente acompanhado de salários dignos, mas também oportunidades de afirmação pessoal e espaço para a legítima ambição.

. Que a cidadania seja empenhada e não deixe por mãos alheias o que lhe cumpre realizar, nem se acomode às zonas de conforto que dispensam o escrutínio construtivo.

. Que o ódio alimentado nas redes ditas sociais, a par da ignorância atrevida e do insulto fácil, seja naturalmente expurgado.

. Que a frontalidade dê cabo do anonimato cobarde e que as verdades sejam ditas sem medos.

. Que a criatividade plural, nem sempre acarinhada apesar de resiliente, seja permanente e que o mérito, nem sempre reconhecido em tempo oportuno, seja justamente compensado.

. Que a gratidão esteja sempre presente nas relações. Se 2021 se cumpre apesar da crueldade, o mérito é de muita gente a quem nem sempre houve tempo para manifestar um singelo mas sentido obrigado. Que seríamos de nós se não houvesse amizade e cumplicidade, crítica e estímulo, tolerância e respeito, cooperação e entrega?

. Que o amor nos faça intensamente felizes! E que seja capaz de gerar paz, compromisso e verticalidade em cada canto.