Crónicas

Fanatismo Político

Como dizia alguém há pouco tempo, há dois partidos levados ao colo pela imprensa. O Bloco de Esquerda porque os adoram e o Chega porque os detestam

Não é preciso ser-se uma pessoa muito atenta ao que se passa no Mundo para se perceber a escalada de ódio que trespassa a política, derivada da bipolarização de certas posições em determinadas áreas do Planeta. Acompanhei com natural atenção as últimas eleições que decorreram nos Estados Unidos e no Brasil, também devido ao facto de ter amigos nos dois países. Percebi que em ambos os casos se criaram autênticos blocos que se digladiaram na procura da fundamentação daquilo em que acreditam. O resultado foi em muitos dos casos, famílias chateadas, amigos que se deixaram de falar e pessoas que não se conheciam em guerra aberta com outras só porque não as conseguiam convencer das suas opiniões. E que para eles esse era factor suficiente para perceber que não poderia existir qualquer relação, se do outro lado estava alguém que defendia valores e princípios tão diferentes.Fez-me lembrar um pouco, com as devidas diferenças, o desmembramento de alguns Países como por exemplo da ex Jugoslávia que dividiram precisamente amigos e família e que criaram facções guerrilheiras onde outrora existiam princípios de paz e salutar convivência.

Esta semana, num jantar entre amigos percebi que estamos a entrar pelo mesmo caminho. Na discussão habitual entre pessoas que se gostam e que sempre se deram bem, mesmo com as inerentes picardias das escolhas futebolísticas ou de cidades mais a Norte ou a Sul, apercebi-me de um extremar de posições que ultrapassa todos os limites da razoabilidade. Quando o tema chegou ao Chega e ao Bloco de Esquerda surgiram acusações de racismo e xenofobia, de valores e princípios fundamentais pelos quais se deve reger a Vida e houve quem se tivesse levantado da mesa e ido embora revoltado com a situação. Resultado foi um jantar estragado, uns ofendidos com outros, com direito a provocações pessoais, e a organizadora, sem ter culpa nenhuma do que se estava a passar, complemente desiludida com todo o circo que ali foi montado.

Temo que este disparate se estenda nos próximos tempos a muitos sectores da nossa sociedade. Com o caldeirão a fervilhar de populismo as redes sociais são por esta altura uma montra perfeita para que se troquem ofensas e se descomponham personagens. O ambiente ideal para terminar com o equilíbrio de um Portugal que mal ou bem tem sabido gerir susceptibilidades num clima de relativa harmonia. O que me leva a pensar que de facto há por aí muita gente que defende a democracia mas só aquela que lhes convém. Enquanto todos estiverem do seu lado podemos e devemos todos ser democráticos, enquanto o gozado for quem está do outro lado podemos todos fazer piadas, mas quando nos toca ao que defendemos, alto e pára o baile porque a nossa democracia não contempla quem possa fazer pouco ou colocar em causa as nossas ideias e opiniões. É assim que o nosso País anda por estes dias.

Como dizia alguém há pouco tempo, há dois partidos levados ao colo pela imprensa. O Bloco de Esquerda porque os adoram e o Chega porque os detestam. Quanto mais nós permitirmos que nos tragam para o meio deste joguete, quanto mais permitirmos que nos transformem em autênticos ventríloquos de alguns manipuladores mais o clima vai azedar e mais perto estaremos de partir para tempos de autentica fragmentação social. É bom que quem continua a alimentar estes ódios, estas guerras e este ambiente crispado, perceba de uma vez por todas para onde nos leva este caminho. Basta ver os exemplos que vêm de fora. Estas ditaduras do que nos convém têm que terminar ou então parem de se arrogar como democratas e assumam-se fanáticos de uma vez por todas. De repente parece que a revolta de um extremismo nos leva para o polo oposto. É a igualdade a liberdade e o Estado de Direito que estão em causa.

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