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Jornal 'Século de Joanesburgo' acaba com edições em papel

Um dos mais antigos jornais da diáspora portuguesa passa a ter só edição 'on-line'

Publicação dispensa metade dos colaboradores

O Século de Joanesburgo, um dos mais antigos jornais da díáspora portuguesa, passou a ter só edição on-line e quatro dos seus oito colaboradores foram dispensados, doce a presidente do grupo ao qual pertence aquele semanário.

Em declarações à Lusa por telefone, a presidente da Século Investment holding, a gestora de participações sociais do grupo que detém o jornal da comunidade portuguesa na África do Sul, Paula Caetano, explicou que face ao contexto de crise causado pela pandemia de covid-19 "não era possível manter por mais tempo os custos da edição em papel".

Paula Ramos dos Santos Caetano, a segunda mulher do antigo dono do Banif, o empresário Horácio Roque (já falecido) lamenta "ter de tomar a decisão", mas adiantou que era a única possível face ao contexto.

O jornal estava a ser suportado pela gráfica do grupo, porque já "não dava lucro", e durante o período de confinamento na África do Sul as gráficas também tiveram de fechar, lembrou.

Além disso, admitiu que o jornal também perdeu anunciantes.

Quanto aos quatro trabalhadores dispensados eram freelancers, segundo a proprietária, que salientou que existem pagamentos em dia a todos os funcionários

"Não é verdade e não faria sentido que eu, que como é sabido apoio várias instituições de solidariedade, deixasse os meus próprios colaboradores sem os salários, ou rendimentos numa altura destas", frisou.

Aos que saíram "foi tudo pago" também, disse.

Porém, uma fonte do grupo, que preferiu o anonimato, disse que alguns trabalhadores já não receberam o 13.º mês no ano passado e a outros não lhes foi pago o bónus anual. Além disso, os meses de abril e maio deste ano foram pagos com atraso, acrescentou.

De acordo com a mesma fonte, alguns trabalhadores do jornal que saíram foram dispensados pelo telefone e queixam-se de que o jornal ainda lhe deve dinheiro.

A Lusa contactou duas das pessoas dispensadas. Uma disse que preferia não falar, mas assegurou que tudo lhe foi pago. Já outro dos colaboradores dispensados disse que nada lhe foi pago e que estava "chocado" com a forma como tinha sido despedido "por telefone", pelo diretor do jornal.

Carlos Silva, fotógrafo freelancer do Século de Joanesburgo há mais de 30 anos e uma das quatro pessoas que continuou a trabalhar para o jornal, disse que não recebeu a sua avença de abril e de maio até agora, mas que lhe foi pago o mês de junho.

"Não entendo porquê, porque trabalho há mais de 30 anos para o jornal, há vários como freelancer mas com avença", afirmou em declarações à Lusa.

Para o repórter fotográfico não faz qualquer sentido ter só a edição on~line do jornal, num país onde a comunidade portuguesa, cada vez mais reduzida, está a envelhecer.

"Para os que liam e compravam todas as semanas o Século de Joanesburgo nos postos de venda, o jornal já acabou", disse Carlos Silva.

Paula Caetano confirmou que o jornal já tinha perdido anunciantes e agora está quase sem publicidade. Mesmo assim, garantiu que mantém a vontade de que o semanário feito para comunidade portuguesa, mesmo que só no on-line, se mantenha além dos 60 anos que vai fazer daqui por três.

"Gostaria que o grupo crescesse, mas tudo depende de como o mercado reagirá" na África do Sul, afirmou a empresária Paula Ramos dos Santos Caetano, numa entrevista à Lusa em Lisboa, publicada em fevereiro deste ano.

Além do Século de Joanesburgo, o grupo controlado pela Século Investment holding tem a segunda maior gráfica da África do Sul, que é o seu sustentáculo.

No online, o jornal tem hoje cerca de 1.500 visualizações semanais a nível mundial, disse a CEO do grupo, para quem estes números significam que "os portugueses que saíram da África do Sul continuam a querer saber o que se passa e a gostar de ler o Século de Joanesburgo" em português. Em papel, vendia cerca de 24 a 30 mil cópias por semana.

O grupo, que emprega cerca de 150 pessoas, tem um volume de negócios de cerca de 300 milhões de rands por ano (cerca de 18,6 milhões de euros), "não tem dívidas e tem lucros", assegurou então a empresária.

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