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Digitalização e Ambiente

A digitalização apresenta-se perante o ambiente de forma dual

As prioridades da agenda ambiental da Presidência Alemã da União Europeia sintetizam o desejável pragmatismo que o sector há muito necessita para que possa constituir-se como um elemento central da política de desenvolvimento e competitividade comunitária.

Se bem que ainda longe do desejável, no domínio das alterações climáticas propõe-se uma aproximação à adiada legislação climática, a par da actualização e efectivação dos mecanismos centrais do Acordo de Paris. Para a biodiversidade, a abertura do caminho para a nova Estratégia para a Biodiversidade Europeia, passa pela necessária adopção das propostas de conclusão e garantias quanto à implementação, ultrapassando os tradicionais conflitos sectoriais, em particular com a agricultura. Será um caminho difícil e que ultrapassará os limites temporais da Presidência Alemã pelo que as atenções, em termos de concretizações e novidades, possivelmente se centrarão na Economia Circular e na Digitalização e Ambiente.

Eficiência e inovação juntam estas matérias, sendo que para a Economia Circular, a aprovação do Plano de Acção poderá dar o impulso necessário para a mudança há muito requerida da parte da indústria e dos consumidores com ganhos de eficiência, produtividade, melhoria das condições ambientais, menor pressão sobre recursos e matérias primas e eliminação de passivos ambientais persistentes. Um passo decisivo para uma economia mais sustentável que, ao mesmo tempo, se ligará ao que a digitalização aporta ao ambiente e sustentabilidade.

A digitalização apresenta-se perante o ambiente de forma dual, com desafios relativos aos impactos ambientais a ela associados e oportunidades de constituir-se como solução para algumas questões decisivas na sustentabilidade ambiental. O cidadão comum tem ainda pouca percepção relativamente aos impactos ambientais associados ao digital escapando-lhe, por exemplo, que actualmente, as tecnologias de infomação e comunicação são responsáveis por 5 a 9% do consumo de electricidade, o que corresponde, em termos de emissões de gases causadores do efeito de estufa, ao mesmo que o total de emissões do tráfego aéreo em todo o planeta. No cenário actual e sem introdução de melhorias, o digital seria responsável por 14% das emissões globais de gases causadores do efeito de estufa em 2040, deitando por terra todos os esforços que outros sectores se preparam para fazer. O simples aumento do tempo de vida, em um ano, dos telemóveis inteligentes na União Europeia, corresponderia a uma diminuição de 2.1 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono, o equivalente a retirar um milhão de automóveis das estradas.

O desafio não é meramente tecnológico, já que um maior investimento no digital ao nível de análise de dados e disponibilização de informação no apoio à tomada de decisão, rapidamente anularia uma parte dos impactos negativos do sector. O digital é fundamental para o sucesso da economia circular e abre garantias muito para além da melhoria da gestão e eficiência. A integração de informação multidimensional na transformação industrial, na gestão dos recursos, modelação e previsão de situações extremas, aportam ganhos incalculáveis para a economia, para o ambiente e para os cidadãos. A questão central, como sempre, não será tecnológica ou sequer económica. Uma vez mais, o cidadão é o factor-chave, nas suas opções e decisões, enquanto consumidor mas, igualmente enquanto agente político que determina a prioridade e a intensidade da decisão política da parte de quem detém, temporariamente, a capacidade de fazer o que tem que ser feito.

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