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Crónicas

O regresso da família

Nós fomos feitos para nos entregarmos aos outros e para crescermos em conjunto

Existem duas certezas que já podemos dar como adquiridas depois de meio ano de pandemia no Mundo. A primeira é que todos nós temos a mania que somos muito modernaços e evoluídos neste século XXI, somos muito à frente, temos respostas para tudo e tudo é facilmente desconstruído pelas nossas mentes brilhantes, às vezes não fosse a realidade bater à porta em situações como esta e diria que alguns se acham realmente perfeitos.Na verdade, quando a crise chegou ninguém teve respostas adequadas para os problemas , nenhuma mente iluminada nos conseguiu esclarecer com clareza do que se trata tudo isto e pior é que continuam sem se entender. Não somos por isso certamente tão avançados e desenvolvidos como nos achamos. Facilmente entrámos em pânico , sem que se assumissem verdadeiros líderes políticos ou religiosos e acabámos por nos sentir todos perdidos sem saber o que fazer perante tantas incoerências.

A segunda é que por muito que tentem alterar conceitos e valores, que tentem criar uma nova ordem social, com dinâmicas mais desprendidas e independentes e que vejam os antigos como algo caduco, retrógrado e ultrapassado esta crise veio afirmar uma vez mais (como se fosse preciso) a importância da família na nossa sociedade. E quando falo em família não falo obrigatoriamente na que nasce connosco mas também aquela que escolhemos ou que nos escolhe. Os que nas alturas difíceis nos apoiam e encorajam. Os que não nos deixam cair perante o temor e as adversidades. Que quando tudo parece perdido têm sempre uma palavra, um ombro uns minutos do seu dia para se dedicarem a nós. Quem tem isso tem muito mais do que o dinheiro possa comprar. Quem não está só é muito mais forte, mais completo e inteiro. Essas são as premissas que no final do dia guiam a nossa vida.

A nossa verdadeira essência impele-nos à relação com os outros, à troca de experiências, à sustentabilidade do conforto que nos leva pelos caminhos do bem estar e da satisfação pessoal. Quando tudo falha que nunca nos falhe o amor e as nossas pessoas. Os verdadeiros que não nos procuram através de estratégias de interesse, que não estão só quando é bom e quando estamos por cima mas que, nos caminhos sinuosos que percorremos entre bons e maus momentos não se esquecem da nossa presença. Nestas alturas de isolamento, de encontros com o desconhecido e de um maior contacto com a finitude da nossa existência, tudo o que não precisamos é de nos sentir sozinhos. Nós fomos feitos para nos entregarmos aos outros e para crescermos em conjunto. É dessa forma que vamos mais longe, na partilha de sentimentos, no prazer de construir um equilíbrio no que nos rodeia, que nos envolve e nos ensina.

Essa é para mim a principal certeza que sai como ensinamento destes tempos particulares que estamos a passar. O regresso da família. Da importância de termos à nossa volta pessoas que nos fazem sentir bem, que nos aproximam da felicidade e que nos fazem sentir importantes. Importantes no verdadeiro sentido da palavra, que não são colados com saliva mas sim com atitudes solidificadas através do tempo. Que não saem nem por nada. Muitas vezes a quem não prestamos devida atenção, que nem aparecem muito quando se acendem as luzes, mas que no escurinho do quarto , na profundidade do nosso ser, não falham quando realmente importa. E quando realmente importa é que traduz a nossa estabilidade. É a nossa definição enquanto pessoas. Que saibamos preservar essa família, seja ela qual for, mesmo que por vezes nos chateie ou pareça disfuncional, mas que seja a nossa, sincera e real. Não há nada que nos preencha mais

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