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O Verão do nosso desconfinamento

Desconfinamos e metemo-nos na arca de Noé a caminho do Porto Santo. Novos, velhos, casados, solteiros, pais, filhos, tios, primos, avós e netos. Quase deixamos as máscaras para trás, as viseiras já estão guardadas nos armários, as luvas, nem vê-las.

Estamos todos felizes por poder chegar ao Porto Santo e procurar o primeiro metro de areia para nos deitarmos, ver as obras que tinham ficado a meio e que não pudemos ver na Páscoa e nos feriados e perceber que as lambecas continuam fechadas, deixando adivinhar um futuro pouco doce para os fãs daquele corante a cair pelos dedos em estado líquido que nos faz desejar o primeiro guardanapo.

As esplanadas do costume já não permitem ouvir as conversas das mesas do lado, uma maçada. Precisamos de escrever os nomes nas máscaras para nos reconhecerem (era giro), porque isto de usar burka na cara e ainda complementar com uns óculos de sol, deixa-nos irreconhecíveis. É bom, de qualquer forma, quando não queremos falar com quem não nos interessa.

A praia tem tamanho suficiente para nos molharmos a todos. Sem exceção. E rebolarmos e parecermos croquetes. Os habitantes locais estão ávidos por receber visitas, o bazar chinês é o único sítio onde não é preciso ficar à porta, ninguém parece querer entrar. Cabemos todos, no extenso areal que só de pisarmos, nos faz curar de todas as doenças, achaques e maleitas.

Aproveitemos uma das dez praias mais seguras da Europa para tirarmos a barriga de miséria, as caravelas portuguesas também desconfinaram e não apareceram nos últimos dias, mas mantenhamos o civismo. Às vezes parece que quando saímos do navio nos tornamos selvagens, esquecemos as regras e vestimos a pele de invasores. Ninguém nos atura, parece que o Porto Santo existe para nos servir e para nos servirmos de quem aqui vive.

E este ano, ai este ano, sem festas noturnas de Verão e barulho para acordar turistas e residentes às altas horas da madrugada, é o ano ideal para visitar o paraíso. A essência da terra bendita está de regresso. E a primeira invasão de 2020, que acontece este fim de semana, convida a uma reflexão. Façamos férias cá dentro. Gastemos dinheiro no Porto Santo em vez de o fazermos em qualquer outro local.

Se tivermos de usar máscara, que seja, nos outros sítios não seria diferente. Se tivermos de esperar à porta de algum restaurante, que seja, fazemos isso em tantos lugares, se tivermos de reservar uma mesa para almoçar ou jantar, não há nada de extraordinário nisso. Acontece em todo o mundo. Quanto a viagens mais longas, deixemo-las para depois, temos de olhar pelos nossos, ninguém vai olhar por nós. Façamos deste o Verão do nosso desconfinamento.

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