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O Titanic afundou-se. E nós?

Se há um mérito neste vírus é de ter evidenciado a essência de todos os Trumps e Bolsonaros deste mundo

A frase que ultimamente mais se tem ouvido é que estamos no mesmo barco. Sinceramente, apesar de não ser pessimista, não faço a “viagem astral” de que vamos ultrapassar isto com a facilidade que nos querem convencer. Porque o que me está a parecer é que estamos num barco chamado “Titanic”.

A estratégia de salvamento precisa de ser rápida e acertada. E isto exige perícia. Não há margem para erro e exige-se atuação em muitas frentes. O barco está a afundar rapidamente. Não vale a pena pedir à orquestra que continue a tocar música para encantar os ouvidos porque a aflição já é grande.

3.131 empresas da Madeira estão em layoff, abrangendo 43.418 trabalhadores. E estes não estão livres do desemprego. Outros, infelizmente já estão no desemprego e aguardemos os resultados do aumento do desemprego na Madeira até ao final do ano. Mas não pense quem mantém o seu posto de trabalho e o seu negócio que não será afetado com esta situação porque a desgraça destas pessoas influencia negativamente a economia e, consequentemente, a vida de todos nós.

Para começar, todos nós já percebemos que perdemos poder de compra. Porque todos nós tivemos de comer durante o tempo do confinamento e vimos as evoluções dos preços. Façam contas à vida!

Isto vai doer. E muito. O sector do turismo, base da nossa economia e um dos pilares do modelo de desenvolvimento económico da Madeira vai atravessar momentos muito difíceis.

A nossa sobrevivência depende da resposta a dar a este duro golpe. Vivemos o caos perfeito porque todos estão a vivê-lo e ninguém está folgado.

O comandante do nosso navio tem agora como missão salvar todos os passageiros e tripulantes do afogamento. Estará a equipa da cabine de comando à altura deste desafio? Não há tempo para engonhanços, nem canções “Parla più”. E deixem-se de criar cenas de pugilismo político na Assembleia Legislativa Regional para justificar seja o que for. Deixem-se de tretas. As pessoas querem soluções.

A qualidade dos deputados e das intervenções não se mede na desclassificação proferida face ao opositor. A este propósito, lembro que há declarações e desclassificações que têm efeito boomerang. No insulto, as palavras tolas ficam com quem as profere. É como se estivessem a tomar veneno, esperando prejudicar a outra pessoa. Pensem nisto.

Também não vale a pena utilizarem estratégias de manipulação nas respostas a determinadas questões. Já repararam que quando não se quer ou não se sabe como responder, muda-se de assunto e faz-se ataques pessoais para distrair as pessoas da questão central e mudar assim a discussão para um outro qualquer tema? E, normalmente, a manobra de diversão fica mais perfeita se terminar com um ataque pessoal para que na memória das pessoas fiquem as palavras tolas. Acham que é assim que se resolvem os nossos problemas?

Precisamos de respostas. Há empresas que se fecharem agora, nunca mais abrem. Aconselho a quem governa que se deixem de tantas certezas e de planos inquestionáveis. E já que gostam tanto de pugilismo e de planos, vou lembrar uma frase de Mike Tyson, o grande campeão de boxe: “Todos têm um plano, até apanharem um murro na boca.”

Se há um mérito neste vírus é de ter evidenciado a essência de todos os Trumps e Bolsonaros deste mundo.

É por demais evidente que uma estratégia de cooperação do Governo Regional com toda a oposição só traria benefícios para toda a população. Pelas ligações existentes que todos compreenderão, o PS-Madeira pode ser um bom interlocutor com a República. Mas quem manda, pode. Eu só pergunto qual o papel do Governo nisto tudo? Garantir que o PSD seja reeleito? Ou garantir a nossa sobrevivência? Não brinquem com a aflição das pessoas.

A este propósito e porque acho justa esta referência, aproveito esta oportunidade para congratular toda a oposição pela forma como tem gerido esta situação na Assembleia Legislativa Regional. Cooperar não significa abdicar do dever de fiscalizar e garantir o bom cumprimento das regras. Caso contrário, caminharíamos para o despotismo.

O tempo urge. Precisamos de saber como será o relacionamento futuro do Governo Regional com o Governo da República. O discurso que a culpa é de Lisboa já farta. E à conta do passado, a desconfiança no Governo Regional é agora grande. A República quer impor regras para fiscalizar o Governo Regional? Faça! Mas faça depressa. Somos todos portugueses!

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