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Que ordem económica e social é esta?

Se há algo que esta pandemia tornou evidente é que a ordem social e económica do mundo está desadequada. Promove desequilíbrios a todos os níveis: familiar, social, económico, ambiental. Transformou os cidadãos em meras peças para alimentar o sistema produtivo e em consumidores compulsivos, para manter uma lógica de mercado global que, não obstante ter trazido melhorias significativas às sociedades que se adaptaram, não foi capaz de esbater as fortes assimetrias entre países.

Enquanto muitos de nós se preocupam com os impactos da supressão de dois meses de aulas num ano letivo, cerca de 250 milhões de crianças no mundo não têm acesso à escola. Debatem-se todos os dias para sobreviver. Enquanto nós nos preocupamos em dar condições tecnológicas aos alunos para aprender e casa, estima-se que haja 40 mil crianças que trabalham nas minas de cobalto, metal necessário para fazer as baterias de lítio, utilizadas nos smartphones ou tablets para que nós, nos países desenvolvidos, tenhamos as condições tecnológicas.

Não pretendo desvalorizar o esforço de todos para se adaptarem a estes tempos estranhos; nem quero passar a ideia de que não vale a pena tomarmos medidas de adaptação e muito menos de que a escola é secundária. Não. A Educação é o mais valioso dos bens. O conhecimento um recurso imprescindível de adaptação do ser humano ao seu meio e à vida, mas tomemos consciência da dimensão do problema noutra escala.

A educação moderna ocidental é responsável por expandir uma monocultura educativa que destruiu variadas formas tradicionais de educar e de adaptação ao meio, incluindo sistemas que privilegiavam a cooperação e a solidariedade comunitária. Na Índia, por exemplo, milhares de famílias fazem o esforço tremendo para dar educação aos filhos, mas 90% dos jovens que saem das províncias para os centros urbanos não conseguem empregos qualificados e bem pagos, acabando por ter vida miseráveis. O problema é que ficam numa terra de ninguém, pois já não se identificam com a sua cultura de base, nem se encaixam nas metrópoles.

As formas de educação tradicionais contribuíam para a sustentabilidade, valor que se perdeu com a introdução de sistemas modernos sem a preocupação de se adequarem à cultura local. A escola de tipo ocidental produz sociedades para a produção em massa e para o consumismo, que nos afasta cada vez mais das nossas origens e da Natureza.

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