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“Conviver com o vírus?”

. Pior que os efeitos do vírus poderão ser os efeitos do tsunami em que vamos ficar submergidos

Tenho plena consciência que a primeira prioridade neste momento é conter o contágio viral. E o isolamento social, por mais que impacte o nosso dia a dia e cause uma tremenda devastação económica e social, é indubitavelmente a melhor arma. É nas presentes circunstancias a melhor estratégia de prevenção para garantir a proteção da população em geral e em particular dos mais vulneráveis (cidadãos com mais de 70 anos e todos aqueles que registem qualquer doença que debilite o seu sistema imunitário). É a vacina que ainda não foi descoberta!

Reconheça-se que a Madeira, a nível nacional, tem sido a Região que mais cedo e com mais intensidade e dureza tem imposto medidas de isolamento social. Nos tempos inquietantes e angustiantes que vivemos isso dá-nos conforto e alguma tranquilidade. Serão muitas vidas poupadas! O Governo Regional e em particular o seu Presidente merecem por isso o nosso reconhecimento.

Dito isto, é imperioso começarmos a olhar para o futuro próximo, até porque tudo deve começar, desde já, a ser preparado para evitar que entremos num cenário em que possamos morrer da cura. Na verdade, a devastação económica e social decorrente das medidas de isolamento social é enorme. Pior que os efeitos do vírus poderão ser os efeitos do tsunami em que vamos ficar submergidos (desemprego elevadíssimo e recessão mais intensa do que a da crise de 2009). Não vamos por isso poder estar mais do que poucas semanas em estrito isolamento social, que tem obviamente de ser escrupulosamente cumprido. É um imperativo de cidadania, imprescindível para que possamos encarar um regresso o mais rápido possível à normalidade. Normalidade que será sempre relativa, não só porque a retoma económica levará algum tempo, por maiores e melhores que sejam as medidas de apoio, mas também porque ao que tudo indica o vírus continuará por aí, ameaçador, até que seja encontrada uma vacina e ou um tratamento. E a vacina poderá não estar disponível com a brevidade que todos desejaríamos. Até o aparecimento de uma vacina muito provavelmente vamos ter de fazer a nossa vida normal “convivendo” com o COVID 19, tal como convivemos por exemplo com o vírus da gripe. Certamente ainda, com algumas regras de isolamento social e com redobrados cuidados de higiene, mas aceitando que os cidadãos menos vulneráveis (a esmagadora maioria da população) para os quais o vírus não representa um risco maior, possam estar mais expostos ao vírus, tal como aceitamos com naturalidade e com pouco receio a exposição ao vírus da gripe. Depois do medo inicial, o COVID 19, por mais que isso nos custe e nos choque poderá ter que ser percecionado como um risco, ao qual não podemos fugir, sob pena de criarmos o caos económico e social. E tal como recomendamos com o intuito de melhor os protegermos a vacina da gripe para os maiores de 65 anos, haverá que obrigatoriamente e infelizmente continuar a exigir-lhes medidas de isolamento social, que agora por falta da devida preparação, não ocorreu da melhor forma. Veja-se a tragédia dos lares de idosos em Madrid, onde o vírus encontrou campo aberto para se propagar. Temos de proteger muito melhor os nossos anciãos, os nossos avós e bisavós. Não podemos ficar sem eles.

Esta forma de “convivência” com o COVID 19 poderá ser inevitável no futuro próximo. Por um lado, evita a ruína económica e social e por outro, garante a estabilidade dos sistemas de saúde.

Termino, expressando a minha esperança de que este cenário não se venha a concretizar. Tenho esperança que Deus permita que a ciência nos possa garantir uma vacina com a brevidade possível.

Agora, urge resistir e sermos cidadãs e cidadãos com C grande, até porque o pior ainda está para vir. Tal como ultrapassámos no passado duríssimas provações, tenho a certeza que vamos vencer mais este tremendo desafio, com a ajuda inestimável dos nossos heróis que estão na primeira linha de socorro e prestação de cuidados de saúde aos contaminados. Para todos eles o meu profundo respeito, admiração e homenagem. Para todos eles o meu sentido agradecimento. Que os saibamos proteger e dar-lhes todas as condições para desenvolverem o seu trabalho com eficácia e segurança.

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