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“O estado democrático necessita força policial”?

Há muito tempo atrás escutei esta ideia de um político que ocupa um cargo importante na hierarquia do país. Como muitos outros, as palavras saem das suas bocas com uma força que parecem conter toda a verdade e ninguém quase pensa sobre elas. Mas é preciso pensar no que dizem. As suas palavras, sobretudo as que mais espontaneamente saem das suas bocas deverão ser objeto de um ato reflexivo. Aconteceu comigo. Poderia ter deixado passar mas, por qualquer motivo, não consegui deixar de pensar naquelas palavras. É estranho um político de um estado democrático defender algo tão excessivo para uma democracia que não deve ver na força policial a solução para nada, a não ser a repressão.

Independentemente das circunstâncias em que foram proferidas, há que pensar seriamente sobre os factos e as soluções nunca estão em colocar um polícia atrás de cada cidadão espreitando sobre o seu ombro para controlar/emendar as suas ações. Também me custa a crer que um político que acredita na democracia possa crer em algo tão básico. Se nos referirmos a um estado fascista, compreendo que tal seja necessário, pois o controlo sobre a população é uma necessidade para evitar que se propaguem ideias que ponham em causa a rigidez ideológica necessária à sobrevivência do mesmo. Num estado democrático não vejo necessidade disso. Depois, a polícia não chega a todo o lado.

Após o 25 de Abril, que pôs um ponto final à ditadura portuguesa, não se educou a população para a democracia. Se pensarmos na aposta que o fascismo fez na juventude educada dentro da ideologia fascista, se pensarmos que esta ainda vive e acredita, muita dela, nessa mesma ideologia como salvação para muitos problemas, não é difícil perceber que aquela frase tenha sido bem aceite e até, quem sabe, apoiada, sem qualquer raciocínio por parte da população. Mas, como não creio nem nunca acreditei no estado baseado na força policial, mas na educação para a liberdade, fácil será perceber como aquela frase teve um efeito negativo em mim e nunca me abandonou até aqui. Se pensarmos que aqueles então jovens professantes da ideologia fascista são agora pais, que valores vão passar aos filhos? Não serão esses que, fazendo propagar o que lhes foi incutido (atenção às exceções à regra) de forma indireta e insatisfeita com a situação atual, em tudo oposta à ideologia veiculada pelos familiares, quererão mostrar que a democracia não funciona? Não existem já nostálgicos sobreviventes que falam da corrupção como um fenómeno apenas democrático impensável num estado totalitário? A corrupção não tem a ver com uma ideologia política tem a ver com os valores morais das pessoas, pelo que sempre haverá aproveitadores em todo o tipo de ideologia política. Quanto à polícia, não é solução para nada. Como já disse acima, há que apostar na liberdade de cada um e na educação para o respeito do próximo. Agora outra questão... Que fazer com aqueles que são doutrinados, desde pequenos, para o racismo, xenofobia e homofobia? As escolas – sobretudo as públicas – têm um papel fundamental ao servir de brainstorming para os fazer pensar e levar a decidir por si mesmos tendo em conta todas as variáveis. Nada melhor do que as questões certas no momento certo para os fazer pensar.

É nesta educação plural que cada um se deve encontrar a si mesmo de acordo com a sua essência humana, porque é à luz da Humanidade que tudo deve ser pensado para ter sentido, porque nada mais somos que Humanidade. Somos unidade apesar dos rótulos impostos para criar dispersão e nos fazer perder dentro da nossa própria Humanidade. Somos humanos e nada mais somos que isto!

Maria de Fátima Dias

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