O quadrado da hipotenusa...
Com o fim da “silly season” voltam de férias os políticos, e com eles os comentadores, e voltou o futebol, também com os seus comentadores, e lá se foi o descanso
Pitágoras de Samos demonstrou a validade do teorema que leva o seu nome
(de acordo com definições conhecidas recolhidas em páginas da Internet, um teorema é uma afirmação que pode ser provada como verdadeira por meio de outras afirmações já demonstradas, em conjunto com outras afirmações anteriormente aceites, como axiomas. Estes, ou postulados como também se chamam, na lógica tradicional são uma sentença ou proposição que, não sendo provada ou demonstrada, é considerada como óbvia e que, por essa razão, é aceite como verdade e serve como ponto de partida para uma dedução ou uma inferência de outras verdades – coisa que em política se faz com muita facilidade...
Mas, fiquemos pela lógica, já que a matemática complica um pouco mais as definições...),
ou seja, o nosso amigo Pitágoras, a caminho de Siracusa disse aos seus netos que o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos, coisa que todos sabemos muito bem, apesar de pouco sabermos exactamente para que serve saber o que Pitágoras ensinou aos netos a caminho de Siracusa, vá lá saber-se fazer o quê!, mas, na realidade definiu uma constante que, sendo constante, não varia conforme as estações, nem com o tamanho das variáveis que, sendo variáveis, variam conforme o que lhes calha em sorte!
Pois então temos teoremas, axiomas, definições e Pitágoras a arengar aos netos a tal coisa dos catetos.
Como estamos em época de “silly season”, aquela época do ano em que políticos e quejandos metem férias
(“silly season” é uma expressão inglesa que designa o período do ano de menor intensidade informativa na comunicação social, quando os critérios de seleção jornalísticos tornam-se mais flexíveis, passando a considerar como relevantes assuntos que, geralmente, não constituiriam objeto de notícia...), falar de Pitágoras e do seu teorema é um tema tão bom como qualquer outro, até porque “silly” pode traduzir-se por idiota, absurdo, ridículo, estúpido ou até mesmo fútil, que é o que é toda esta conversa!
Será?
Com o fim da “silly season” voltam de férias os políticos, e com eles os comentadores, e voltou o futebol, também com os seus comentadores, e lá se foi o descanso, porque o “silly” afinal começa agora.
Tal como o clima que está mudando a olhos vistos, pela futilidade e estupidez (“silly”, pois claro) de axiomas que se vão fazendo ouvir
(como vimos na definição, um axioma não é necessariamente uma verdade autoevidente, mas apenas uma expressão lógica formal usada em uma dedução, visando obter resultados mais facilmente, isto é, mostrar inferências que podem ser derivadas a partir de um pequeno e bem definido conjunto de sentenças, como muito bem sabem fazer alguns políticos na hora de vender o seu peixe, isto é, os seus axiomas de verdade pura!),
e para não entrarmos no futebol, com os golos que foram, os que não foram, os que poderiam ter sido, com as respectivas muito portuguesas vitórias morais, e que dão pano para mangas semanas atrás de semanas, sempre com os mesmos argumentos finais
(lembram-se do teorema de Pitágoras?),
variando somente o tamanho dos catetos, fazendo com que o quadrado da hipotenusa seja sempre, mas sempre, igual à soma dos quadrados dos catetos, isto é variam os tamanhos dos argumentos, mas o resultado é sempre predictível, vamos só dar um pequeno exemplo de como “axiomar” argumentos que, vindos de um lado do espectro político seriam demonizados, mas vindo do outro lado passam a ser “tudo certo”.
A greve dos Motoristas de Matérias Perigosas – um direito que se lhes assiste por via da Constituição da República – foi considerada um “atentado” à ordem pública, “et pour cause”, atentatória à liberdade dos cidadãos, deu direito a requisição civil, a ameaças de desemprego, à requisição de militares para fazer um trabalho que não lhes competia, mas que tinham de obedecer sob pena de processo disciplinar, tudo sob o olhar cúmplice dos que, dizendo que não, apoiam tudo o que de torto foi sendo feito, limitando alguns direitos fundamentais.
“Nós nunca fomos governo”, disse um dirigente de um partido, “nós somente consentimos que o governo governasse, e quando não estávamos de acordo eramos contra”, disse ele, axiomizando uma mentira de quatro anos, fazendo crer, agora que se aproximam eleições, que esteve quase sempre contra, e – “sou contra, mas voto a favor”! - foi o que fomos vendo nesta geringonça em que vivemos.
Foi assim durante os últimos quatro anos, fazendo com que a “regular season” se parecesse cada vez mais com a “silly season”, fruto talvez das mudanças climáticas, mas dando razão a Pitágoras quando demonstrou que o teorema que leva o seu nome é uma das constantes a que podemos nos socorrer quando falta senso à lógica.
E, como sabemos, em política a lógica é uma semilha (batata, para quem já esqueceu “madeirense”).