Crónicas

Vá para fora cá dentro

Continuamos a não valorizar quem trabalha e apresenta resultados e quem não cede a interesses pequeninos

Era este o lema que dava corpo e conteúdo à publicidade do Ministério do Comércio e Turismo português em 1995. E a frase era tão recheada de substância e tão demonstrativa que ficou para sempre e é hoje utilizada pelas mais diversas entidades e empresas ligadas ao Turismo. Fácil será perceber porquê. É que esta expressão deu corpo a uma mensagem que era na altura como será agora importante ser retida. A diversidade de paisagens, as diferentes idiossincrasias e a ambivalência de destinos que se equilibram numa dicotomia que preenche mar e montanha, vales e planícies, praia e campo. Somos por isso uns sortudos por vivermos neste País maravilhoso. É no entanto relevante perceber que não são poucas as vezes em que nem sequer pomos em equação passearmos por cá aquando da marcação das férias.

Esse é o significado desta frase tão bem escolhida. O desafio de usarmos o nosso próprio espaço, de andarmos por aí numa aprendizagem dos sentidos que nos devolve com tantas e tão díspares emoções. Um alumbramento que nos proporciona um conjunto de experiências que nem parecem “deste Mundo”. Ao contrário do que possa ser efémero , estas são aquelas recordações que nos marcam a memória e nos decalcam a alma. Assim como uma epifania onde de repente tudo se transforma e aos nosso olhos tudo parece fazer sentido. Percorrer os caminhos de Portugal será porventura uma definição perfeita para o antónimo de melancolia pelas suas especificidades, com a singularidade de cada pormenor, o peso da história que sempre vem ao de cima em cada canto e que nos leva para um qualquer conto.

Vem isto a propósito deste fim de semana bem passado que me proporcionaram. Tiveram a amabilidade e a paciência de me levar a conhecer alguns dos segredos dos tantos que preenchem a Madeira. Aquela rocha especial , a simplicidade numa queda de água , a pausa para pensar num olhar profundo sobre o horizonte, as flores maravilhosas que de tão diferentes pincelam de forma especial a ilha. Mostraram-me as explosões de um mar enfurecido que contrastava com o canto dos passarinhos e com aquele assobio leve do vento com a espuma do mar a estilhaçar no calhau. Tal qual num CD daqueles de auto-ajuda ou de meditação e Yoga em que prevalecem os sons calmantes da natureza que se fundem com a beleza que sai de uma Kalimba, nos fazem relaxar automaticamente e nos levam para uma viagem de prazer, uma massagem dos sentidos nos preenche e envolve.

Este desafio interior que o Turismo de Portugal nos fez despertar em 95 e ainda tão atual tem que ser encarado como tal para mim e para todos os portugueses que gostam de conhecer, de explorar e de saber mais.Às vezes achamos que não temos tempo para nada e que estamos assoberbados com trabalho mas ir por vezes é mesmo o melhor remédio para a nossa paz interior e até para a nossa sanidade mental para o crescimento da nossa cumplicidade, para que nos proporcionam vezes sem conta risos de ir às lágrimas e abraços de futuro. Assim como ir de “rolão” numa espiral moral e afetiva. A consciência viva desses lugares que preenchem o nosso imaginário e que às vezes estão quase à nossa porta e nem os vemos. São este tipo de experiências a que nos prestamos e que tendem a dar tanto de retorno que nos tornam mais cheios, mais intensos e mais completos. Devemos por isso dar várias oportunidades aos nossos “postais”, vão ver que é o melhor tratamento que podem ter para as doenças mais perigosas do século XXI. As da cabeça. Experimentar as diferentes iguarias que nos apresentam, conhecer as pessoas que por lá vivem e contactar com elas mesmo que por vezes de tão simples possa parecer que por ali a ASAE ainda não passou. Ficou-me a faltar o “Abrigo do Pastor” na Camacha que espero visitar da próxima vez. Vão para fora cá dentro, existem por aí muitas historias ainda por contar que farão seguramente parte da vossa. É só meterem o pezinho fora da zona de conforto e seguirem por aí...

P.S. Este “post scriptum” podia seguir sem pontos porque é mesmo do PS que se trata. Fiquei a saber já o artigo ia no fim que a euro deputada Liliana Rodrigues não figurará na lista do partido para as próximas eleições. Continuamos a não valorizar quem trabalha e apresenta resultados e quem não cede a interesses pequeninos. Quem representa de forma condigna Portugal no Mundo. É uma pena mas um filme recorrente. A política continua mais do mesmo...