Artigos

Exposições na Ordem dos Arquitectos

A sede vai abrir as suas portas a todos os arquitectos madeirenses permitindo que estes exponham o seu trabalho ao público

O exercício da arquitectura, independentemente da sua vertente técnica, é uma actividade eminentemente cultural que vive melhor se souber tirar partido do contributo das outras artes. Não se trata de comparar o ofício do arquitecto com o do artista - duas práticas completamente diferentes que só se confundem na cabeça de algumas funéreas luminárias - mas sim de reconhecer que a arquitectura pode aprender com as artes plásticas, pode, inclusivamente, acolhe-las no seu seio ou na sua epiderme. A arquitectura pode até ascender à categoria de Arte (com A grande), se o arquitecto, o promotor, o empreiteiro, o clima económico e até o tapume da obra, isto é, todo o conjunto de circunstâncias que determinam a qualidade do produto final derem origem a uma construção na qual a comunidade acaba por se rever e, quem sabe até, reencontrar a sua alma.

Foi por estas nobres e colossais razões que a modesta (mas atrevida) sede da Delegação da Ordem dos Arquitectos da Madeira quis ser um espaço polivalente onde, para além de conferências, tertúlias ou a formação técnica dos seus membros, fosse possível acolher exposições onde estivessem representadas outras artes. Foi assim que, desde 20 de Março de 2015 até ao dia de hoje, na parede em cimento à vista da nossa sede estiveram “penduradas” mais de 17 exposições das mais diversas áreas: pintura, escultura, design, fotografia, arquitectura e urbanismo. Se atendermos que a maior parte delas esteve aberta ao público cerca de mês e meio, estamos a falar de mais de dois anos de matéria cultural em exposição!

Desde Ventura Terra a Rafael Botelho, eminentes arquitectos-urbanistas que ao Funchal dedicaram o seu saber, até consagrados escultores como Amândio de Sousa ou Ricardo Veloza (que na sua feição de designer estacionou um carro na nossa sede), passando por artistas plásticos como Filipa Venâncio, Bárbara Gil, o saudoso Ara Gouveia, Francisco Clode, Rui Teles Dantas, Rui Carvalho, Catarina Leitão, Jacinto Rodrigues, os fotógrafos José Carlos Nascimento e Filipe Gomes, ou os jovens arquitectos madeirenses do Atelier Ponto, com o seu excelente projecto para as Ilhas Selvagens (que a selvajaria humana impediu que se realizasse...). Muitas exposições tiveram lugar na nossa sede. Mas muita coisa está ainda para vir.

Por iniciativa da Direcção, agora liderada pela arquitecta Carolina Sumares, a sede vai abrir as suas portas a todos os arquitectos madeirenses permitindo que estes exponham o seu trabalho ao público, demonstrando o que valem. Trata-se do programa PAREDE, que convida todos os que queiram partilhar as suas ideias e visões da arquitectura a ocupar a galeria da sede. Quatro vezes por ano e durante 1 mês, individualmente ou em conjunto, os arquitectos madeirenses terão um espaço para divulgar o seu trabalho, mostrá-lo ao público, discuti-lo com colegas ou outros interessados, promoverem os seus ateliers, fazerem ver que a arquitectura é território dos arquitectos e que, quando o vento sopra de feição, o seu modesto ofício pode ombrear com as outras artes e merece ser escrito com A grande: Arquitectura.

PS - A Delegação da Madeira da Ordem dos Arquitectos não detém o direito exclusivo de expor a obra dos seus membros, e ainda bem! Serve esta nota, precisamente, para exortar todos os interessados a visitar a exposição de arquitectura sobre a obra do arquitecto madeirense Rui Goes Ferreira, comissariada pela sua neta, a arquitecta Madalena Vidigal. Esta excelente exposição está a decorrer até ao fim do mês na Porta 33, galeria que dispensa apresentações.