Turismo

Traídos pelos preços baixos

Por que é que 2013 turístico na Região não bateu o anterior máximo histórico em vários indicadores, ficando pelo 3.º melhor ano de sempre?  A questão foi colocada ao painel de comentadores do DIÁRIO para as questões do Turismo, sendo certo haver razões estruturais e conjunturais a ditar os saldos reinantes em alguma hotelaria insular.

Paulo Prada analisa os números e conclui que, se em termos de hóspedes, dormidas e taxa de ocupação, as variações entre 2007 e 2013 são irrelevantes, “já no que concerne aos proveitos totais e Rev-PAR, as diferenças são substanciais”. O presidente do Conselho Consultivo da Associação de Promoção e administrador do grupo Pestana vai mais longe e refere que se a comparação for feita a preços correntes, “a quebra nos referidos dois indicadores é, respectivamente, de 17% e 15%”. E se se usar preços constantes, “assumindo que 1 euro, em 2007, vale, em 2013, 1,12 euros, então, a queda é de 27% e 26%!”, sublinha. Há de facto um desfasamento, a preços constantes, no RevPAR, no valor de 10 euros, pois passou de 45 para 35 euros. Ou seja, “a diferença entre os dois anos em causa resulta, essencialmente, do preço”, destaca Paulo Prada.

O preço  domina por completo a reflexão de António Trindade. O presidente do Grupo Porto Bay, apesar de  admitir que 2013 “foi um bom ano”, ressalva que os melhores desempenhos ocorreram no Verão, época em que geralmente “os preços médios (Average Room Rates) são mais baixos do que os de Inverno, sobretudo nos hotéis que trabalham muito com portugueses e espanhóis,  a preços ridiculamente baixos”, por sinal, desfasados de 2008, ano em que “o nivelamento Inverno/Verão foi maior”.

António Trindade observa ainda ter havido uma “contenção muito grande de preços na hotelaria”, acompanhada de um número “muito grande de ofertas promocionais, que  trazem preços cá para baixo”. Isto para além de “um crescimento exponencial de oferta paralela, com excelentes ocupações, mas a preços médios mais baixos”.

Paulo Prada considera haver uma razão conjuntural para a perda de valor. “Os anos de 2011 e 2012 não foram bons e os responsáveis dos hotéis, numa atitude prudente, acordaram, antecipadamente, preços, designadamente, com os operadores, por valores semelhantes aos anos anteriores, para garantir a ocupação. Perante o aumento da procura, que não era expectável quando das negociações com a tour operação, devido ao que se passou na Turquia e, sobretudo, no Egipto, já não houve margem para aumentar, em conformidade, os preços”, opina. Quanto às questões estruturais,  Paulo Prada aponta para a concorrência de novos destinos , na sua óptica “com novos e mais bem promovidos, posicionados e sofisticados produtos”.  Tendo presente as duas ordens de razão,  “e como os preços e ocupações não se impõem por decreto”, julga que “há que fazer algo no nosso produto e na sua promoção”.

“Algo” que pode ser muito. Não é por acaso que o director geral da Quintinha de São João, André Barreto, assume não ter resposta linear. Pelo facto de “não ter sido estabelecido nenhum objectivo para o ano, pelo menos de forma concreta e devidamente fundamentada”, assume que ficou “sem saber se o facto de 2013 ter sido o 3.º melhor ano de sempre é bom ou mau”.

Empenho desigual

Eduardo Jesus lembra que o desempenho turístico regional  não depende só de factores externos. E se é certo que a Primavera Árabe gerou novos fluxos para todo o mediterrâneo e ilhas baleares nota ter havido diferença nos desempenhos, que resultam da “combinação dessa grande oportunidade com a acção interna de cada destino”. O presidente da Ordem dos Economistas destaca “o  notável o trabalho” dos hoteleiros e agentes de viagens que se envolveram, viajando e promovendo  a Região por esse mundo fora, da  ANAM que conseguiu vingar novas ligações e frequências, “fazendo, em conjunto, potenciar a capacidade de aproveitar a redefinição da procura turística”. Mas julga que podia ter sido feito mais. Bastava “a mesma atitude de adaptação, de invenção, de inconformismo, de necessidade e de acção em todas as entidades envolvidas na promoção da Madeira”.

Opiniões

António Trindade -  “2013 foi um bom ano, mas com maior expressão no período de Verão onde, geralmente,  os preços médios  são mais baixos do que os de Inverno, sobretudo nos hotéis que trabalham muito com portugueses e espanhóis, onde  os preços são ridiculamente baixos. Isto, comparando com 2008, por exemplo, em que o nivelamento Inverno/Verão foi maior”.

André Barreto -  “Devo dizer que, atendendo ao facto de não ter sido estabelecido nenhum objectivo para o ano, pelo menos de forma concreta e devidamente fundamentada, fico sem saber se o facto de 2013 ter sido o 3.º melhor ano de sempre é bom ou mau”.

Eduardo jesus -  “Para que tivéssemos o melhor ano de sempre seria necessário encontrar esta mesma atitude de adaptação, de invenção, de inconformismo, de necessidade e de acção em todas as entidades envolvidas na promoção da Madeira”.

Paulo Prada -  “Os anos de 2011 e 2012 não foram bons e os responsáveis dos hotéis, numa atitude prudente, acordaram, antecipadamente, preços, designadamente, com os tour operadores, por valores semelhantes aos anos anteriores, para garantir a ocupação. Perante o aumento da procura, que não era expectável, já não houve margem para aumentar, em conformidade, os preços”.

5 NÚMEROS - Descubra as diferenças entre 2013 e o melhor ano de sempre

9,46% - é a taxa de quebra de hóspedes  entrados na  hotelaria madeirense, menos 95.894 do que em 2008.

230 - mil dormidas  a menos na hotelaria regional entre os dois  anos em comparação provocaram um rombo de 3,7% neste indicador.

1,3 - pontos percentuais separam a taxa líquida de ocupação-cama entre 2013  e 2008. No ano passado a ocupação foi de 59,1%. No melhor ano do turismo madeirense, o mesmo indicador foi de 60,4%

8,9% - foi a margem de decréscimo nos proveitos totais,  fruto de uma perda de 26, 6 milhões de euros. Em 2008 os proveitos foram de 297,8 milhões. Em 2013 foram de 271,2 milhões de euros.

1,84 - euros é a diferença de rendimento de quarto disponível, o equivalente a um qebra de 5%. Em 2008 o RevPar era de 36,76 euros. No ano passado foi de 34,92.