Turismo

Na Madeira fala-se muito em ocupação e pouco em receitas

Turismo na Madeira vai passar a representar mais de 40% do PIB

A 19ª edição da Reunião Anual Pestana (RAP) vai decorrer na Madeira, a partir de amanhã e até segunda-feira. Um encontro que conta com a participação de 162 colaboradores, que representam os diferentes sectores do Pestana Turismo em  três continentes - Europa, Américas e África e em 13 países: África do Sul, Argentina,Alemanha, Brasil, Cabo Verde, Colômbia, EUA, Inglaterra, Marrocos, Moçambique, Portugal, S. Tomé e Venezuela.A reunião contará com a presença dos colaboradores do Pestana South Beach Hotel, em Miami, e do Pestana Casablanca Hotel, em Marrocos, as novas unidades do grupo que iniciaram operação já este ano.Luigi Valle é administrador e 'Chief Operating Officer' (COO) do Grupo Pestana, onde trabalha há 35 anos. Cabe-lhe abrir o encontro, que  passou  nos últimos anos por Salvador da Baía, Sintra, Évora, Porto Santo, Natal, Londres, Porto e Cascais.  É na qualidade de Presidente da Comissão da RAP que responde por escrito às questões colocadas pelo DIÁRIO.Quais os objectivos da Reunião Anual Pestana? Este momento da RAP é determinante na formação da 'Cultura Pestana'. Trata-se de uma reunião global, fundamental e de imprescindível estrutura profissional.Que significado tem o facto de este ano a RAP se realizar na Madeira? A 20 de Novembro de 1972 foi inaugurado o actual Pestana Carlton Madeira, o primeiro hotel do Grupo Pestana. Tem toda a lógica, quando estamos a comemorar o 40º aniversário do Grupo, que a reunião tenha lugar aqui na Madeira. Não é só para que os nossos colaboradores que vêm de diferentes países e mesmo do Continente conheçam a Região. É um modo de sensibilização colectiva de reconhecimento de que tudo começou por aqui.  Nem todas as pessoas podem saber que temos seis colaboradores - 6 Senhoras - que trabalham no Pestana Turismo há já 40 anos. E todos vamos dizer: "Parabéns e Obrigada". Neste momento, o Grupo tem cerca de 7 mil colaboradores e estes exemplos valorizam as decisões próprias individuais.A sede do Grupo Pestana SGPS, SA, é aqui na Madeira.  O Dr. Dionísio Pestana, Presidente do Grupo, chegou à ilha em 1976.  E é aqui que vive e trabalha.Eu já tive oportunidade de estar três anos no Rio de Janeiro, Brasil, quando o Dr. Dionísio Pestana me convidou para exercer as funções de Presidente do Grupo Pestana na América do Sul, e tenho há muitos anos um escritório no Pestana Palace Hotel, em Lisboa. Mas, para alguns, a Madeira é a Madeira.A reunião tem servido para fomentar a análise, reflexão e inspiração dos quadros do grupo.  Também haverá oportunidade para fazer balanços a desempenhos e traçar metas. No contexto actual, o que é que mais vos preocupa? Quais os resultados mais importantes de 2012? E quais serão os grandes momentos, trunfos e objectivos para 2013?  Temos de ter leituras transversais, mas outras directas para os sectores, áreas e países. O Pestana Turismo, no sector de hotelaria, teve em 2012 um ano que correspondeu, de certo modo, às perspectivas que tinham sido feitas. Evidentemente que, em Portugal, os resultados finais não foram satisfatórios, principalmente pela ausência do mercado nacional.  Seja em termos de segmentação lazer, Corporate e Group/MICE.  Adianto que o factor sazonalidade, em zonas como o Algarve e a Madeira, continua a manter as mesmas características, prejudicando de um modo preocupante a procura das unidades no período de Outubro a Abril, e, também, pelos ARR - Average Room Rate estarem mais baixos devido à concorrência colectiva.Mas o Pestana Turismo não pode "pensar" só em Portugal. Estamos em 3 continentes e 13 países e a leitura, logicamente, deve ser feita por unidade, área, país e continente, mas também pela globalidade da nossa oferta.Londres, Rio de Janeiro, Caracas, Maputo, Porto Santo, Berlim, Freixo e outros, são bons exemplos de óptimos resultados.No Brasil, as expectativas são bem positivas, pois além do mais, temos um "novo" hotel no Rio de Janeiro graças à excelente remodelação que foi feita no Pestana Rio Atlântica; estamos a crescer a procura numa unidade que foi aberta o ao passado, o Pestana Bogotá, na Colômbia; para além das expectativas das mesmas unidades a que já fiz anteriormente referência e que continuam a ser muito bem positivas.O que vai acontecer em Portugal? Hotéis e Pousadas com grandes e graves dificuldades para o mercado nacional para além da classificação do problema da sazonalidade no Algarve e Madeira, e com reduções importantes na segmentação Group/MICE que penalizam os hotéis nas principais cidades, pois as empresas portuguesas têm grandes limitações financeiras, e, por isso, certos e determinados mercados vão em parte continuar a compensar a ausência da procura do mercado nacional.Mas em termos gerais e multi-nacionais, prevê-se que o ano de 2013 na hotelaria seja melhor do que o ano de 2012, mas continua a não ser comparável com outros anos anteriores.Qual será o posicionamento específico do grupo no mercado madeirense, sabendo que o crescimento anual até 2015 é de apenas 1%, como prevê o PENT? O problema é que o crescimento anual previsto até 2015 é de 1% sobre uma base baixa. Evidentemente que se fizermos uma comparação, por exemplo, com 2008, a leitura é completamente diferente.Terá sido o 20 de Fevereiro de 2010, os incêndios do ano passado, ou o dengue que fazem com que os potenciais clientes não visitem a Madeira? A Madeira está a ser "vendida" mais barata e com uma inversão na sazonalidade devido a isso? Será que a ANAM pode vir a ter, finalmente, a partir de agora, uma leitura diferente em termos de certos custos dos transportes aéreos para a Região (Madeira e Porto Santo)?Com os gravíssimos problemas que ocorreram no Centro Internacional de Negócios da Madeira e que penalizam o PIB Regional, e não só, o turismo vai "crescer percentualmente".  Mas não porque os valores são maiores, mas porque o valor total é que passou - e continua a ser - menor.  Por isso, compreendo e aceito que se comece a falar de apoio a crescimentos na agricultura, pesca, etc, mas que não se perca mais tempo na avaliação do que deve ser feito para defesa da evolução da oferta do turismo na Madeira. Que se tenha capacidade para dialogar com as transportadoras aéreas que são decisivas numa parte da selecção final dos clientes. A oferta de transporte representa cerca de 50% da quantidade de quartos hoteleiros. Leitura anual. A inversão da sazonalidade - por maior concorrência transversal - está a criar problemas ainda mais complexos.  E acrescento. Que quando se vende se estejam a aplicar valores mais baixos do que o previsto e antigamente, e bem mais baixo do que em outras zonas competitivas.Isto que eu vou dizer é do conhecimento do sector. O ARR médio do Pestana Turismo no meses de Julho, Agosto e Setembro no Algarve, é completamente diferente do que na Madeira. Idem para a concorrência. E aqui na Madeira, fala-se muito em ocupação, ocupação e ocupação e é bem importante que se fale em receitas, receitas e receitas.A RAP ocorre numa altura peculiar para a Região. Coincide com a constatação de que importa ter um plano estratégico (embora a tutela lhe dê outra denominação) para o destino pronto quanto antes e com a certeza que a hotelaria regional perdeu hóspedes, dormidas e proveitos. Que fazer? Em Janeiro de 2012, escrevi um artigo no DIÁRIO. Que passo a lembrar: "O Decreto Legislativo Regional n.º 17/2002/M aprova o Plano de Ordenamento Turístico da Região Autónoma da Madeira. Ficou conhecido como POT. Porquê o POT? " … sentiu o Governo Regional a necessidade de criar mecanismos de gestão das estratégias e políticas a adoptar em tal domínio".Nessa época eu era Presidente da Mesa de Hotelaria da ACIF. Fui contactado duas ou três vezes e apresentei as minhas modestas opiniões. Como outras pessoas do sector privado relacionadas com o turismo.O POT serviu de alguma coisa? Sim, foram feitas algumas coisas. Mas muitas outras ainda estão por fazer.  Mas já não devem ser feitas porque a situação é diferente.A filosofia adjacente a este POT atingiu certos comportamentos e ideias? Repito.  Não vou fazer comentários, porque até não são necessários! Que só servem de troca de opiniões em defesa de "certos princípios".Mas acrescentaria e concluiria.A) Os POTs não devem ficar na gaveta das pessoa.B) E lembro o artigo 21.º do DLR 17/2002/M: "O POT vigorará por um período de 10 anos a partir da sua publicação."O POT 2 terá de ser bem diferente do POT  1.  Um POT 2 é importante para um sector que na Região Autónoma da Madeira vai passar a representar mais de 40%, porque os outros sectores vão, infelizmente, ter um menor "peso" percentual no Produto Interno.É por isso que reconheço a importância de que não nos concentremos só em como vamos pagar.  É fundamental saber o que é que podemos criar e como vamos receber."Não faço qualquer outro comentário. Digo somente que estamos em Fevereiro de 2013.