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As palavras que vos digo

Esta corrida que iniciei há quatro anos, foi um impulso cívico, não planeado, mas convicto

Embora possa parecer que as eleições acabaram, a verdade é que elas nunca acabam. Quem está na vida política está sempre sobre o escrutínio e a avaliação, de quem vota e mesmo de quem não vota, todas as horas de todos os dias. Os desafios são permanentes e a chegada à meta é o tiro de partida. Um desassossego bom de querer fazer mais, sempre melhor. E ainda bem que tudo se move e que entre partidas e chegadas fazemos caminho. E concretizamos coisas com inspiração e empenho, para beneficio das populações, porque tudo começa e acaba nas pessoas.

Após as eleições tenho sido convidado a participar em entrevistas, ditas de mais leves, num registo mais pessoal do que político. Normalmente desvaloriza-se este tipo de peça jornalística, e não falo das chamadas notícias cor-de-rosa, mas há informação da vida pessoal e da história de quem desempenha um cargo político, que é de relevância pública. Um político não se faz do nada e antes de ser político, já era pessoa com vida própria, com um percurso e com ideias. E isso importa conhecer, porque a política são as pessoas. E cada vez mais se votam em pessoas, derrubando-se muros mentais, em que os eleitores entendiam que tendo votado num partido uma vez, o deveriam fazer em todas as outras vezes. Isso acabou. Tal como acabou nesta terra, a ideia de um partido invencível, o PSD, e a presunção que só os seus membros têm capacidade de governar.

Esta corrida que iniciei há quatro anos, foi um impulso cívico, não planeado, mas convicto. Não tendo um currículo partidário, e não sendo de todo conhecido, ainda recentemente numa entrevista disse à jornalista, que em 2013 quando apareci na vida política madeirense, muita gente perguntava: mas ele é filho de quem? Curiosamente o meu pai, que faleceu no ano passado e que ainda viveu para assistir a três anos da minha vida política, era interpelado com um: você é o pai do Presidente?

Pelo facto desta minha vida política ter sido repentina e ser ainda muito recente, não sou ainda filiado partidariamente. Sou o chamado “independente”. Não é situação inédita, pois outros políticos da nossa praça assim começaram, filiando-se só muito mais tarde. Se olharmos para a história do País, tivemos até no Governo de Portugal, três primeiros-ministros sem filiação partidária: Alfredo Nobre da Costa, Carlos Mota Pinto e Maria de Lourdes Pintasilgo.

A verdade é que não estimo palavra “independente”, se for entendida como algo desligado de tudo, pois identifico-me com o Partido Socialista e lidero uma coligação de partidos no Funchal. Reconheço, no entanto, que foi essa condição que permitiu edificar em 2013 a primeira “Geringonça”, uma coligação inédita. Sendo a política a gestão do possível, e como disse o ex-primeiro-ministro francês, Guy Mollet, “a coligação política é a arte de usar o sapato direito no pé esquerdo sem deixar calos.” Um percurso que nos trouxe até aqui.

Não estou nada arrependido de ter tomado a decisão de participar na vida política. Sei que tinha de fazer a minha parte e tomar posição sobre aquilo em que acredito estar certo. Tal como acredito que todos têm um papel, e que vale a pena tentar melhorar o nosso bocado de mundo.

Nos últimos anos, fizemos e concretizamos muita coisa, mas permitam-me destacar algo que para mim foi a maior conquista: a cidadania e a participação. O mérito foi das pessoas. O projeto que tenho a honra de liderar foi apenas o catalisador dessa vontade de agir, e de tentar fazer mais e melhor. Este projeto nasceu no seio das pessoas, mas disseminou-se por todo o espectro político, tocou gente com todas as sensibilidades, uniu partidos, e tem provado que não há limites para o que a cidadania ativa.

Hoje respira-se melhor. Temos ajudado a mudar mentalidades na Madeira, mas temos de continuar, porque a cidadania e a participação têm de ser continuamente acarinhadas. Que jamais lhes sejamos indiferentes.