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António José Seguro - Um de nós

António José Seguro manteve-se imune à intriga: “Afastei-me quando podia dividir. Regresso agora para unir”

O título deste artigo é o mesmo do livro escrito por Rui Gomes sobre António José Seguro. O livro é um processo de escuta que reúne 70 testemunhos. As vozes são de amigos, estudantes, “professores, sonhadores, pessoas empenhadas, desiludidas, ilustres” e de gente comum. Tanto fala um antigo Presidente de França como o Presidente da Junta de Freguesia da aldeia. Para mim, a leitura serviu como memória reencontrada, configurando-se num gesto de compreensão e, por vezes, de indignação. A minha interpretação isenta o autor de qualquer intenção parcial, ainda que seja evidente a esperança que depositamos, eu e o autor, em António José Seguro como caminho para Portugal.

António José Seguro distingue-se pela sua humanidade. Quando chega, é “recebido como um dos nossos”, diz Jorge Teixeira. “É possível, com ele, entregar aos nossos filhos uma sociedade mais justa”, refere Miguel Teixeira. Ele volta sempre e “quando vem, há alegria, abraço, partilha, conversa”, ali pelos lados de Moreira do Castelo, que faço questão de visitar para conhecer o Jorge Teixeira. A sua honra e a capacidade singular de criar pontes fazem dele um político ímpar e um ser humano especial. A sua “liderança é de escuta e ação, presença e ponderação”, pela voz de Susana Mendes.

Na obra é possível identificar quatro ciclos que estruturam a vida de António José Seguro.

O 1.º ciclo é o tempo da inocência: a infância e as raízes de António José Seguro moldam o político que viria a ser: humano, leal e com um profundo sentido de serviço público. A sua ação nasce do país real — o interior de Portugal tantas vezes esquecido — e traduz-se num compromisso firme com a juventude, a justiça social e a coesão territorial. No Parlamento, no Governo e na Europa, defende causas com coragem, mesmo nos momentos mais difíceis, e projeta Portugal no plano internacional através das políticas de juventude e da cooperação europeia. É a fase em que a empatia se transforma em ação e o caráter se converte em liderança. É aqui que se aprende o valor da amizade: confiar. Não esquece as deslealdades, mas sabe viver com elas. “Não procuro o futuro no avesso do passado”. Aqui, ensinas que é possível seguir em frente sem ficar refém do passado.

O 2.º ciclo constitui-se como perceção dos instrumentos de poder. Neste ciclo, António José Seguro compreende o poder por dentro: a sua complexidade, os seus equilíbrios e as suas armadilhas. A governar sem maioria absoluta, aprende que a liderança mais eficaz não é a que impõe, mas a que antecipa, dialoga e preserva a unidade. Influenciado por Guterres, consolida a visão do poder como serviço e não como posse, rejeitando a política do confronto estéril. Afirma-se como mediador, estratega e construtor de consensos — postura que manteve quando precisou de enfrentar decisões difíceis, recusando a lógica do poder como fim em si mesmo.

O 3.º ciclo foi o tempo do fel. Testemunhei e senti parte dele. Entre 2002 e 2014, António José Seguro vive o período em que o poder revela a sua face mais dura: a ascensão pública convive com a erosão interna. Concretiza reformas estruturantes, eleva o rigor e a ética a prioridades políticas antes de o tema se tornar mainstream, e lidera a oposição à austeridade que feriu profundamente a coesão social. Reconhecido de forma transversal pela sua capacidade de diálogo e pela visão democrática, paga o preço da independência e da coerência, tornando-se alvo de intrigas prolongadas. Vale a pena ler a cronologia de 2011, do PEC4 à renúncia ao mandato em 2014, depois de ganhar eleições. Ali se percebe que, na política, não há gratidão e a lealdade é rara. Deixa a política sem amargura, reafirmando a sua essência: a política como serviço, e não como posse. Reinventa-se no plano académico, mantendo a missão — fortalecer a democracia e as instituições.

O 4.º ciclo está por escrever. É o retorno. É o tempo da união. “Mas o mundo não tem de ser assim” (2021). António José Seguro manteve-se imune à intriga. “Afastei-me quando podia dividir. Regresso agora para unir.” Fica a lição — não apenas para a política, mas para a vida: a união exige mais coragem do que o confronto, e deixa um legado maior do que qualquer vitória momentânea.