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E agora Madeira?

A semana que vivemos é única na nossa história. Tem uma pedagogia própria. O fim das maiorias absolutas será higiénica para a Madeira, mas a sua utilidade dependerá de como for usada. Colocou todos (ou quase todos) a conversar e ninguém a mandar sobre tudo e todos. A intolerância iniciou a difícil aprendizagem da convivência. E isto é só o começo.

Como pessoa do CDS, enamorado de ideias de liberdade, seja económica, de expressão e de opções de vida, sinto um travo agridoce nos lábios. O meu partido é agora a peça indispensável num novo governo. Ao mesmo tempo, teve o segundo pior resultado dos últimos 30 anos, ao perder 58% dos votos, muito por culpa da bipolarização. Na verdade, esta não foi uma eleição, mas sim uma espécie de referendo. Para muitos eleitores não havia 17 opções, mas só duas: Mudar ou Continuar. Venceu o Mudar, mas o timbre da mudança não agrada a todos. Uns prefeririam o acento mais grave, outros o agudo.

Faz este mês de setembro 25 anos que recebi o diploma de licenciado em Medicina pela Universidade do Porto. A minha vida tem sido centrada no exercício de Medicina. Com um gosto pela política, mesmo assim, esta está moldada à Saúde. Assim questiono-me, o que estas eleições significam para a saúde na Madeira?

A ser concretizada uma coligação com o PSD, várias questões complexas se colocam:

Haverá a possibilidade de reparar danos e carências no SESARAM? De promover o regresso dos profissionais que saíram desiludidos do hospital? De cativar jovens médicos, quando eles mesmos são cobiçados por toda a Europa? De mudar as condições de trabalho, o que uma colega minha descrevia-me como inumanas, referindo-se à Urgência? Serão cumpridas as promessas eleitorais feitas aos profissionais? De haver Meritocracia? De acabar ou minimizar o clientelismo? E a partidarização do SESARAM? E de dar direitos aos doentes? De inverter o crescimento das listas de espera? De dar alternativas no SESARAM ou serviços privados, caso esperem demasiado por cirurgias e exames? De valorizar a prevenção e os cuidados primários, tão esquecidas desde 2008? A promoção do atrito entre Lisboa e o Funchal não emperrará as verbas para o novo Hospital?

A Moção de Saúde, aprovada por unanimidade no congresso do CDS, indica o caminho e as soluções a adotar. E muitos perguntam, o CDS está em condições de resistir à pressão do PSD para não as aplicar? É fundamental estar e de resistir! Somos o instrumento da mudança na saúde.

E é possível um caminho simbiótico na saúde entre estes dois partidos, com visões tão distintas neste assunto? Gostaria muito que sim, mas tive recentemente dois indícios preocupantes: Um gestor referiu que, se o CDS teve 5,7% dos votos, é expectável que só tenha essa percentagem de influência. Há dias, uma administradora interpelou deputados do CDS, que tomavam um café no bar do hospital, e convidou-os a sair do hospital, isto com o argumento que o bar não é público!!! Será possível mudar este paradigma de intolerância? Gostaria que sim, mas tenho dúvidas legítimas.

Muitos questionam se, para haver mudanças positivas, é preciso que a Secretária da Saúde seja do CDS? Não necessariamente! Há pessoas capazes na área do PSD e, igualmente, há independentes com méritos provados. O que não se pode é virar o disco, e acabar por tocar o mesmo, quando na verdade queremos outra melodia, provavelmente mais harmónica e estimulante. Mais do que o nome do maestro ou a cor da sua casaca, queremos outros princípios e valores, mérito no seu trajeto e a capacidade para conduzir bons músicos com a serenidade, só ao alcance dos mais competentes.

Na apresentação das propostas do CDS, realizada no Museu das Cruzes a 28 agosto, Manuel Brito defendeu um consenso regional na saúde: aumentar significativamente o financiamento, recuperar o tecido dos recursos humanos, dar resposta às listas de espera e construir o novo Hospital. Confessarei tristeza se esta bandeira, e outras, forem esquecidas. Em suma, não se deve defender uma coisa e a seguir outra distinta, ou uma palete de várias nuances.

A postura do CDS não será fácil, mas é crucial. Tenho a perfeita consciência que, se escolher um certo caminho, se esse caminho não nos levar a lugar nenhum, seremos penalizados. E se levar a bom porto, seremos valorizados. Se a escolha política foi nossa, as consequências também.

É, pois, fundamental para o CDS, como peça decisiva da nova legislatura, não esquecer ou negar a sua identidade, proteger o seu legado político de luta anti jardinista e contra os radicalismos de esquerda. E honrar a sua história de coragem. Porquê? Porque é uma história que muito nos orgulha!