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Vacas sagradas

O PSD não teve maioria absoluta nas últimas eleições ao Parlamento Regional e viu-se obrigado a fazer coligação com o CDS que, tendo conseguido eleger 3 deputados, a somar com os do PSD, formou uma maioria absoluta. E assim o PSD conseguiria uma estabilidade governativa como estava habituado.

Porém, governar com dois partidos é mais difícil do que com um governo de um só partido. O CDS exigiu contrapartidas e aqui começam os problemas. Foi criada a Secretaria do Mar, mas rapidamente esbarrou nas jaulas da aquicultura. Foram com muita sede ao pote. Quando o povo viu que iriam instalar mais jaulas além das que já lá estavam, entrou em contestação. E o que vai fazer o Senhor Secretário do Mar? Esperemos pelo desfecho deste imbróglio.

Outra exigência do CDS é a chefia dos directores de serviço do SESARAM. Quando os médicos do hospital, sobretudo os directores dos diversos serviços, (que são quase todos homens pelo que se viu nas imagens), se viram confrontados com o Dr Mário Pereira como chefe, entraram em contestação. Esses médicos não aceitam o Dr Mário Pereira, dizendo que foi nomeado, o que é contra as regras, pois deveria ser eleito pelos seus pares.

Ora bem, o PSD já fugiu tantas vezes das regras em tantos anos de governo na Madeira e essas e outras pessoas nunca reclamaram. Nunca lhes tinha chegado ao pêlo. Mas o que os ditos médicos não admitem é que o Dr. Mário Pereira seja o seu chefe, uma vez que na Assembleia Regional, como deputado, denunciou tanta coisa que, segundo ele, se passa na área da Saúde. AS VACAS SAGRADAS não podem ser denunciadas, confrontadas, atacadas. Não sei se o Dr Mário Pereira falou verdade ou não, mas sei que diversos dos seus pares no hospital também têm consultórios privados ou trabalham fora do hospital. Cumprem as suas obrigações correctamente em todo o lado? Talvez sim, talvez não.

A classe médica sempre foi muito poderosa. Tem na mão a vida das pessoas e possuem um estatuto superior às outras classes profissionais. E há quem se julgue intocável. Sagrado.

O médico Rafael Macedo, especialista em medicina nuclear, decerto falou demais, denunciou muita coisa e foi despedido rapidamente, sem apelo nem agravo.

O Dr Mário Pereira também falou, denunciou algumas coisas, mas não mencionou nomes e ninguém contestou as suas intervenções. No entanto, ficou marcado e não é aceite pelos seus pares. E criou-se o caos nos serviços do SESARAM. O Dr Migual de Sousa, em artigo de opinião do DN, escreveu que muitas pessoas estarão arrependidas de não terem dado a maioria absoluta ao PSD nas últimas eleições. E não haverá pessoas a pensar ao contrário? Alguns eleitores não estarão arrependidos de terem votado no PSD e agora se virem confrontados com um serviço de saúde tão conturbado? Se pode pagar consulta no privado, lá se vai arranjando, de contrário, tem a sua saúde em risco.

Cada pessoa é livre de tomar as opções que quiser, mas não se livra das consequências que daí advêm.

Conceição Pereira

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