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Concedam-me três desejos para um machiqueiro

Dizem que onde há um machiqueiro, há um engenheiro. É. E parece que há um bombeiro. Mas também parece que havia câmaras de vídeo onde não se sabia que elas estavam.

Devo ter sido a única comum mortal que não viu as imagens que um anónimo corajoso pôs a circular para pôr a nu a brutalidade de um ignóbil que se aproveitou de uma mulher indefesa que teve coragem de o deixar, o que falta a muitas mulheres, embaladas por falsas promessas e juras de mudanças que nunca acontecem. Havia de haver câmaras e crimes públicos há mais de 40 anos e talvez muitas histórias se tivessem escrito de forma diferente. Sei exatamente o que passou aquela criança, soube vezes demais, mas isso são outros quinhentos.

De repente, ouvir falar do bombeiro fez-me imaginar uma mangueira que inadvertidamente podia ter-se encaixado num buraco onde não entra a luz e o cavalheiro levantar voo com a pressão de uma agulheta de 5 centímetros. Assim um cenário tipo Aladino, a esvoaçar sobre a baía de Machico. Mas como a minha imaginação é fértil, mais fértil do que um terreno de argila, pensei numa inversão de papéis e era eu que imaginava três desejos para lhe oferecer. O primeiro, era ser enviado para A Ilha do Diabo, uma colónia penal na Guiana Francesa para os presos mais perigosos, castigados da pior forma possível, retratado soberbamente no livro Papillon.

O outro desejo era amarrá-lo numa árvore como veio ao mundo, pinceladinho com mel e deixar aos pés um pote de marabuntas. São umas formiguinhas vermelhas, assim do tamanho de um carrapato, que por acaso consistem na única espécie daqueles simpáticos bichinhos que removem e consomem carne de vertebrados, como lagartos e serpentes, inclusive de animais de maior porte, bem como do homem. Pormenor importante: um machiqueiro-bombeiro-barbeiro pode demorar, com aquelas medidas, dois dias e meio a morrer. Sempre consciente…

Eu já estava a ver o génio da mangueira a tentar fugir para os lados do Pico do Facho quando me lembrei do terceiro desejo. Mantê-lo isolado na Cadeia dos Viveiros, para sua própria proteção, para não ser atacado pelos outros presos da Cancela. Sim, eu tenho um lado bom. Tenho um lado humano. Acho que o deviam proteger dos outros detidos.

Quando estivesse protegido na antiga cadeia, abria inscrições, para mulheres que se quisessem vingar dos homens que as tivessem agredido. Lamentavelmente, umas já não fazem parte deste mundo. Em grupos de cinco, deixava-as entrar e ligava as câmaras do pátio, onde o bonzinho do génio da mangueira ia levar um pancume daqueles à madeirense. Mas para não me acusarem de incitar a violência, era só um grupo por dia. Sete dias por semana. E depois, todos os dias, abria um perfil falso na internet para pôr a correr os vídeos da criatura a ver arrancados os fios de cabelo um por um. O jogo só acabava quando não restasse um fio de cabelo. Pode ser que nessa altura uma criança de nove anos já seja um adulto que ame a mulher e a trate com respeito, por, felizmente, não ter seguido exemplos.