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Tanto “bom” problema

Agosto é um mês de especial veraneio, das férias, e tudo fica alienado entre festas e festivais, que transbordam por todo o lado e ao mesmo tempo, estendendo-se até ao final do verão.

As eleições autárquicas do próximo mês de outubro vão espevitando alguma mediatização, onde câmaras e juntas rebentam as águas da diversão, fazendo crescer a despesa circense para embasbacar o povo acrítico, garantindo simpatias eleitorais, dadas as difíceis escolhas de fundos de tachos rapados, que atordoaram várias candidaturas em certos concelhos.

Este festim tem um calendário resistente, até, perante o fogo dos incêndios florestais, pois, a festa partidária dos alaranjados em Quarteira, exibiu-se em plena competição com o contorno laranja das chamas noturnas ameaçando aldeias, como exibiam as televisões neste país tão pequeno, quanto absurdo.

O Governo Regional está estoicamente a lutar contra o maior drama dos madeirenses: a questão do transporte TVDE, já com reincidências inconstitucionais. Só falta reeditar a Revolta da Farinha de 1931.

Não temos problemas de habitação, até porque o sector cooperativo habitacional, que tem benefícios públicos, até resulta em alguns casos, em mais AL (Alojamento Local).

As centenas de “altas problemáticas” que ocupam camas hospitalares não têm composta uma faustosa “estrutura de missão” (um eufemismo para tacho bem remunerado), para a gestão dos espaços, mas, há sempre mais um canto, ou um tapete para ocultar a varredura.

A compra dos manuais escolares pesa sempre no orçamento familiar nesta altura, mas o suplemento extraordinário da pensão de outubro do avô ou da avó, vai ajudar.

Os reembolsos do IASAÚDE estão atrasados e os do subsídio social de mobilidade ainda aguardam pela tal “plataforma”, provavelmente lá para 30 de fevereiro.

Em dezembro de 2023 a violência doméstica colocava a Madeira no pódio nacional vergonhoso. Agora com aquele vídeo embaraçoso, que gerou uma epifania e comoção generalizada, lá as autoridades policiais e judiciárias detiveram o agressor “só” dezenas de horas depois, para apagar o incêndio mediático da efémera indignação.

O turismo está anárquico e sufoca a generalidade da população residente. A Madeira não é, nem minha, nem nossa. É um feudo de meia-dúzia que se enlambuzam de tanto proveito, à conta dos excessos permitidos, que vão pouco a pouco desqualificando o destino, por muitos troféus que se arranjem.

A governação madeirense está completamente desfocada dos verdadeiros problemas da população. Mas, o povo só tem o que escolheu, logo, não há desencontros nem espaço a queixumes. Não há “problemas bons”, quando a nossa vida se degrada para proveito de alguns. Há sim, cada vez mais problemas ignorados.

(Sei de uma anedota sobre um aeroporto e um plano de contingência, mas, por economia de espaço, não vou revelar).